Uma hipótese atualmente considerada é de que indivíduos com
dificuldades graves e persistentes de aprendizagem da matemática podem
apresentar déficits no senso numérico (Piazza et al., 2010, Pinheiro-Chagas et
al., 2014) ou em representações intuitivas e não-simbólicas de numerosidade
(Butteworth, 2005, Butterworth et al., 2011). A compreensão de
como os neurônios representam e processam numerosidade, ou seja, a
representação interna da cardinalidade dos conjuntos, pode então ser relevante
para a compreensão dos mecanismos cognitivos subjacentes à discalculia do desenvolvimento
e seu tratamento.
No encontro da Royal Society sobre As Origens dasHabilidades Numéricas, ocorrido em fevereiro de 2017, houve duas conferências
sobre o modo como os neurônios representam e processam numerosidade. Uma aula
foi proferida por Gary J. Rose.
sobre neurônios contadores em anfíbios. e a outra por Andreas Nieder (2017),
sobre numerônios em primatas.
Os estudos neurofisiológicos em primatas evidenciaram dois
tipos de respostas neuronais à numerosidade. Os neurônios acumuladores,
descobertos na área LIP do sulco intraparietal, respondem de forma linear e
monotõnica, aumentando ou diminuindo sua freqüência de descarga em função da
cardinalidade dos estímulos apresentados (Roitman et al. 2007). O segundo tipo
de neurônio foi encontrado na área VIP do sulco intraparietal e denominado de
numerônio por Andreas Nieder, uma vez que tais neurônios respondem
especificamente ainda que de forma imprecisa, a uma cardinalidade específica
(vide revisão em Nieder, 2016, Nieder & Dehaene, 2009).
As técnicas atuais de neuroimagem funcional apresentam
limitações importantes quanto à sua resolução espacial e temporal e, portanto,
não permitem registrar padrões de resposta a estímulos diretamente relacionados
à atividade de neurônios isolados ou
grupos de neurônios especificamente integrados em redes. O registro
neurofisiológico da atividade de neurônios isolados em macacos alertas e
respondendo a estímulos específicos é a preparação fisiológica que mais se
aproxima de caracterizar padrões de resposta neuronal a estímulos específicos
revestidos de significado cognitivo e motivacional.
A técnica consiste em introduzir eletrodos microscópicos no
córtex cerebral, os quais se situam externamente aos neurônios. Normalmente
tais microeletrodos extracelulares conseguem registrar um potencial de campo,
ou seja, a atividade de grupos de dezenas a centenas de neurônios em uma determinada
região do neurópilo. Com muita paciência e auxílio de algoritmos computacionais
poderosos é possível, entretanto, identificar padrões de resposta gerados por
um único neurônio – registro de unidade isolada. Trata-se de uma verdadeira
pescaria, a qual exige milhares de ensaios até que se possa caracterizar um
padrão específico de associação entre estímulo e resposta neuronal.
O animal é motivado a trabalhar através de técnicas operantes
de reforçamento. O animal sofre um período de privação de alimento e líquido e
recebe um reforço, p. ex., sob a forma de um gole de suco, toda a vez que
responde corretamente. O paradigma consiste em apresentar um estímulo modelo
com uma determinada numerosidade após algum sinal de alerta. Segue-se um
período de espera e aparece um alvo de resposta. Os estímulos podem consistir,
p. ex., de conjuntos de pontos visualmente apresentados de forma simultânea ou seqüencial
ou seqüências de sons. A tarefa consiste em identificar se o estímulo alvo é
igual ou diferente do modelo em termos de sua numerosidade. Diversos parâmetros
perceptuais indicando magnitude contínua são aleatorizados e controlados, tais
como o tamanho e a forma dos estímulos, a área e o perímetro totais, a
densidade, a luminância etc. na modalidade visual. Os controles visam garantir
que o animal responda em função de numerosidade discreta e não com base nas
características perceptuais contínuas dos estímulos que covariam com a
numerosidade discreta.
Utilizando-se de variações desse paradigma Andreas Nieder
conseguiu caracterizar as propriedades fisiológicos de numerônios, ou seja, de
neurônios que respondem especificamente à cardinalidade dos conjuntos
apresentados (Nieder, 2009, 2016, Nieder & Dehaene, 2009). Os numerônios
são neurônios associativos descobertos na área VIP no sulco intraparietal e nas
áreas circundantes ao sulco principal no córtex prefrontal de macacos (vide Figura 1). A
quantidade de numerônios é maior no córtex prefrontal do que no córtex
parietal, mas as latências de resposta são menores nos numerônios parietais do
que nos prefrontais. Isso sugere que esses neurônios são ligados em série, com
as repostas ocorrendo inicialmente no córtex parietal e posteriormente sendo
propagadas para o córtex prefrontal.
Figura 1 - Circuito parieto-frontal para a representação de numerosidade em macacos Rhesus. Os numerônios são encontrados na região VIP do sulco intraparietal e nas áreas circundantes ao sulco principal (Ps) no córtex prefrontal dorsolateral. Os neurônios acumuladores são observados na área LIP do sulco intraparietal. As marges do sulco intraparietal foram afastadas de forma que se visualize o seu fundo com as áreas VIP e LIP. Os tempos de latência para as respostas neuronais à numerosidade sugerem que as áreas LIP, VIP e os neurõnios do córtex prefrontal são organizados em uma seqüência temporal de ativação. Como existem conexões reentrantes entre essas áreas é possível inferir que essas regiões formam uma rede possivelmente responsável pela representação e processamento de numerosiddae não-simbólica. É principalmente na região em torno do sulco principal no córte prefrontal que foram observados neurônios com respostas multimodais (visuais e acústicas) à numerosidade. É nesse região que se situam também os neurônios com propriedades associativas que permitem estabelecer conexões entre representações simbólicas (arbitrárias) e numerosidade não simbóloica. Os neurônios cuja inativação compromete a represwentação smoatomotora de numerosidade foram observados na área 5. (Figura reproduzida a partir de Nieder & Dehaene, 2009).
O padrão de respostas dos numerônios é peculiar. Cada
numerônio r responde especificamente ainda que de forma imprecisa a uma
cardinalidade determinada. P. ex., o numerônio para 3 responde mais
intensamente a conjuntos com três elementos e sua freqüência de resposta vai
diminuindo à medida que a cardinalidade dos estímulos apresentados difere de 3.
Cada numerônio exibe um pico específico de aumento da freqüência de resposta para
uma cardinalidade específica, mas também responde ainda que de forma
progressivamente atenuada a cardinalidades menores ou maiores adjacentes. P.
ex., o numerônio para 3 responde mais intensamente para conjuntos com esse
número e progressivamente menos para conjuntos com 2 e 4 ou 1 e 5 elementos. As
respostas dos numerônios se distribuem, portanto, de forma gaussiana em torno
de um pico ótimo de resposta para uma dada cardinalidade.
Os padrões de resposta dos numerônios obedecem às mesmas
leis psicofísicas de Weber e Fechner que caracterizam o comportamento de
animais e humanos quando precisam discriminar de forma não-simbólica
numerosidades. O pareamento quase perfeito entre as funções neutonal e
psicofísica de animais, sugere que os padrões de resposta dos numerônios podem
explicar a assinatura psicofísica da discriminação não-simbólica de magnitudes
numéricas.
Dois efeitos comportamentais principais constituem a
assinatura psicofísica da discriminação de magnitudes numéricas, o efeito da
distância e o efeito do tamanho. O efeito da distância consiste no fato de que
é tão mais difícil discriminar as magnitudes numéricas do estímulos quanto
menor for a diferença entre eles. Assim, toma mais tempo e a taxa de erros é
maior para discriminar a magnitude de conjuntos com 3 e 4 elementos do que pára
discriminar entre conjuntos com 1 e 4 elementos. Há um limite de resolução no
sistema. Ou seja, uma diferença minimamente detectável. Diferenças menores do
que essa limiar não são percebidas. A diferença minimamente perceptível guarda
uma relação proporcional ou variabilidade escolar com o nível de magnitude dos
estímulos que estão sendo discriminados. Dessa forma, a diferença minimamente
discriminável pode ser igual a 2 quando a discriminação deve ser feita entre
conjuntos tomando 20 como referência. Ou seja, o indivíduo pode discriminar
entre 20e 22, mas não entre 20 e 21. Por outro lado, a diferença mínima pode
ser igual a 4 quando a magnitude de referência é 40. Isto é, um participante
consegue discriminar entre 40 e 44, mas não entre 40 e 43.
A existência de um limiar de diferença numérica minimamente
discriminável e sua variabilidade escalar correspondem à lei de Weber, descrita
na psicofísica do Século XIX. A mínima diferença numérica que pode ser
discriminada é uma constante, a fracção de Weber, resultante da razão entre as
diferenças dos estímulos que estão sendo discriminados e a faixa geral de
magnitude que está sendo trabalhada. Stanislas Dehaene operacionalizou
matematicamente a fracção de Weber como sendo igual a w, ou seja, o
desvo-padrão da distribuição gaussiana das respostas em torno de uma
numerosidade específica (Nieder & Dehaene, 2009).
A segunda característica psicofísica da discriminação de
magnitudes numéricas é o efeito do tamanho ou da magnitude (size effect). É mais
fácil, ou seja, toma menos tempo e a taxa de erros é menor, para um
participante discriminar as diferenças entre magnitudes numéricas menores do
que entre magnitudes numéricas maiores. P. ex., é mais fácil discriminar entre
4 e 5 do que entre 8 e 9, ainda que a diferença numérica absoluta entre os dois
pares de algarismos seja idêntica. O efeito do tamanho sugere que as
discriminações de magnitudes obedeçam à lei de Fechner. Fechner descobriu no
Século XIX que a) existe uma correlação entre a intensidade física dos
estímulos perceptuais e a intensidade das suas representações mentais, e b) a
função que descreve essa relação é de natureza logarítmica. A dificuldade
progressiva de realizar as discriminações em função do tamanho crescente dos
números pode então ser explicada pela compressão logarítmica. Uma das
propriedades da escala logarítmica é que os intervalos entre os números não são
regulares, diminuindo à medida que a magnitude numérica aumenta. Com isso pode
ocorrer uma sobreposição crescente nas respostas gaussianas de numerônios à
medida que as numerosidades preferenciais vão aumentando de magnitude. Essa
sobreposição crescente da distribuição das respostas gaussianas dos numerônios
explicaria então o efeito do tamanho e a dificuldade progressivad e trabalhar
com números maiores.
A descoberta de que as discriminações numéricas não-simbólicas
obedecem à lei de Weber-Fechner sugere que as numerosidades sejam representadas
no cérebro-mente sob a forma de uma escala analógica ou não-simbólica, através
das posições ocupadas pelos números em uma linha numérica mental espacialmente
orientada. A imprecisão dos padrões de resposta e sua sobreposição explica o
efeito da distância. Ou seja, o fato de que é mais difícil discriminar entre
dois números o quanto mais próximos numericamente eles esteja. O efeito do
tamanho é explicado, por sua vez, pela compressão logarítmica e conseqüente
sobreposição progressiva das representações de numerosidade.
A orientação espacial da linha numérica foi corrborada pelo
efeito SNARC (spatial numerical association of response codes) (Dehaene et al.,
1993). Em uma tarefa de julgamento da paridade de algarismos, as respostas aos
algarismos menores são mais rápidas com a mão esquerda enquanto as resposas aos
algarismos maiores são mais rápidas com a
mão direita. Isso sugere que os algarismos menores sejam
preferencialmente representados no hemisfério direito e os algarismos maiores
no hemisfério esquerdo. Os algarismos parecem se dispor então em uma linha
numérica orientada do menor para o maior e da esquerda para a direita. Existe
variabilidade cultural, uma vez que a linha mental numérica pode se dispor da
direita para a esquerda em línguas que obedecem essa direção de escrita
(Dehaene et al., 1993). Evidências adicionais indicam que a linha mental
numérica é implementada por mecanismos de memória de trabalho visoespacial
localizados no lobo parietal póstero-superior, principalmente à direita (Dehaene
et al., 1993).
Evidências adicionais indicam que os neurônios respondem
especificamente à cardinalidade e não às características contínuas de magnitude
perceptual. Em um estudo foi demonstrado, p. ex., que ocorre transferência
intermodalidades sensorais entre visão e audição para a discriminação de
numerosidades (Nieder, 2008). A relação causal entre a atividade dos numerônios
e a performance comportamental, por outro lado, é sugerida por estudos de
inativação dos numerônios com respostas somatomotores na área 5 em macacos resultando em comprometimento das respostas
neuronais e do desempenho sem que haja interferência com os padrões sensoriais e motores básicos (Sawamura et al., 2010).
Em humanos foi observado que as discriminações de magnitude
de numerosidades simbólicas também obedem à lei de Weber-Fechner (Dehaene et
al., 1990). Isso sugere que o significado numérico quantitativo dos numerais
simbólicos se baseia na automatização de conexões entre os símbololos e sua representação
semântica quantitativa. Nieder conduziu estudos em macacos Rhesus, mostrando
que numerônios da área em torno do sulco principal no córtex prefrontal têm a
capacidade de aprender associações entre representações de magnitude e representações
simbólicas (arbitrárias) (Diester & Nieder, 2007, vide revisão em Nieder,
2009). Esses achados sugerem um modelo dos primórdios do desenvolvimento da
numerosidade simbólica.
Mas, como foi mencionado acima, os numerônios não são o
único tipo de neurônios com respostas às quantidades numéricas discretas
observados no córtex parietal de macacos. Roitman e cols. (2007, 2012)
descreveram um outro padrão de resposta neuronal à numerosidade discreta. Os
neurônios acumuladores ou somatórios respondem de forma linear, monotônica ao
aumento (ou diminuição) da numerosiddae dos estímulos. A freqüência de descarga
de alguns neurônios aumenta enquanto a de outros diminui à medida que cresce a
cardinalidade dos conjuntos-estímulo. Os neurônios acumuladores foram
descobertos em uma região denomi9nada de LIP no sulco intraparietal e suas
latências de resposta são inferiores àquelas dos numerônios da área VIP,
sugerindo que ambos tipos são ligados em série. Esse resultado pode ser
interpretado em termos de um tipo de modelo de rede neural proposto para a
emergência da numerosidade não-simbólica, o qual prevê a organização seqüencial
de unidades acumuladoras e unidades representando numerosidades específivas
(Dehaene & Changeux, 1993).
Estudos de neuroimagem funcional em humanos convergem com as
propriedades fisiológicas dos numerônios. Há evidências abundantes, p. ex., de
que o sistema de representação não-simbólica de numerosidade em humanos também
recruta uma rede neural parieto-frontal (Arsalidou & Taylor, 2011, Kaufmann
et al., 2011). Há evidências também de que os padrões ativação do sulco
intraparietal em humanos durante tarefas de discriminação numérica respeitam a
lei de Weber-Fechner (Piazza et al., 2004, 2007). Há notável convergência,
portanto, entre os estudos psicofísicos, as investigações de neuroimagem
funcional em humanos e as pesquisas neurofisiológicas com macacos.
A caracterização fisiológica dos numerônios associada aos
estudos comportamentais com animais e humanos além das pesquisas com
neuroimagem funcional sugerem um modelo coerente e consistente para a
representação mental de numerosidade (Nieder & Dehaene, 2009). Segundo esse
modelo as numerosidades são mentalmente representadas de forma analógica
(quanto maior a numerosidade, maior a distância em uma linha numérica),
não-simbólica (independente de sistemas simbólicos arbitrários tais como a
linguagem ou o sistema arábico), abstrata (supramodal ou independente da
modalidade sensorial de apresentação dos estímulos), discreta (independente de
propriedades contínuas relacionadas à magnitude perceptual covariada),
universal cultural (presente em todas as culturas huanas, inclusive naquelas
que não dispõem de numerais simbólicos),
compartilhada com outras espécies animais (quer seja por evolução convergente
ou pela preservação de mecanismos adaptativos comuns) e possivelmente inata (ou pelo menos adquirida
muito cedo na ontogênese). Essas representações não-simbólicas e aproximadas de
numerosidade são freqüentemente denominadas de senso numérico, sendo
representadas por um approximate number system (ANS) implementado por circuitos
parieto-frontais. Poder-se-ia dizer que o senso numérico tem uma natureza
quase-perceptual, uma vez que se baseia em representações abstratas, as quais
obedecem à lei psicofísica de Weber-Fechner. Tratar-se-ia, nesse caso, de uma
representação inbtermediária entre os níveis perceptual e conceitual.
Apesar de o modelo de representação de magnitude numérica
sugerido pela confluência de estudos comparados, antropológicos,
neurofisiológicos, de neuroimagem estrutural e
funcional, cognitivo-experimenetais e do desenvolvimento humano ser impressionante
(Nieder e Dehaene, 2009), o mesmo não fica sem críticas. As criticas ao modelo
serão apresentadas em um texto posterior. Brevemente pode-se mencionar,
entretanto, que algumas das principais críticas dizem respeito ao fato de que a
caracterização de respostas a numerosidades discretas em bebês é notoriamente difícil
(de Hevia, 2016) e de que é muito difícil controlar experimentalmente as
características contínuas dos estímulos (Gebuis et al., 2016, Leibovich et al.,
2016, Szücs et al., 2013). Com isso a interpretação de que os numerônios
respondem a numerosidades discretas e não às magnitudes contínuas covariadas
pode ser questionada. Alguns autores têm proposto um sistema generalizado de
magnitude, compreendendo espaço, tempo e número, de natureza contínua e do qual
as representações numéricas seriam originárias (e. g., Walsh, 2003).
P. ex., como existe co-variação entre a numerosidade
discreta e a área dos estímulos isolados, para manter constante a área total do
estímulos há a necessidade de reduzir a área dos estímulos isolados à medida
que cresce a numerosidade dos conjuntos. Com isso pode ocorrer uma situação
tipo Stroop de interferência, na qual o inidivíduo tem que suprimir a tendência
automática de caracterizar como menores os estímulos com um número maior de
elementos. Nesse caso, o desempenho na tarefa dependeria mais de funcionamento
executivo do que de representações de numerosidade propriamente.
Essas críticas podem, entretanto, ser rebatidas considerando
que há transferência intermodalidades sensoriais das discriminações numéricas
(Nieder, 2012). Assim sendo, as críticas de que o controle experimental das
dimensões perceptuais contínuas na modalidade visual está longe de ser perfeito
são consideravelmente atenuadas. Evidências psicofísicas adicionais sugerem que
possa haver três sistemas de representação e discriminação de magnitudes
numéricas: a) um sistema preciso relacionado a magnitudes discretgas inferiores
a 4 ou 5, evidenciado em tarefas de subitizing; b) um sistema aproximado
envolvido com a representação discreta de numerosidade em conjuntos pouco
densos de estímulos e correlacioando com o desempenho em aritmética; e c) um
sistema continuo de percepção de textura em conjuntos de estímulos com maior
densidade e não relacionados ao desempenho em aritmética (Anobile et al., 2016a,
vide revisão em Anobile et al., 2016b). Essa proposta será discutida em um
texto focalizando a conferência de Burr (2017), juntamente com as críticas ao
modelo de senso numérico.
De uma certa forma, pode-se dizer que o only game in town da
cognição numérica é invalidar o modelo de numerosidade discreta, aproximada e
não-simbólica possivelmente implementado pelo ANS (Nieder & Dehaene, 2009).
Esse é o jogo da ciência. Um modelo é sugerido e os outros pesquisadores tentam
invalidá-lo. Todo mundo joga pedra no modelo. Adquire-se tanto mais confiança
no modelo quanto mais ele resistir às tentativas de falsificação. O papel que
as representações não-simbólicas de numerosidade possam eventualmente
desempenhar na complexa cadeia causal que origina a discalculia do
desenvolvimento é uma questão em aberto, que precisa ser investigada.
AGRADECIMENTOS: As nossas pesquisas das quais resultaram os
resultados apresentados na Royal Society foram conduzidas nos Departamentnos de
Psicologia (VGH) e Biologia Geral (MRSC) e nos PPGs em Neurociências e Saúde da
Criança e do Adolescente da UFMG (VGH) e Genética (MRSC) da UFMG, sendo
financiadas pelo DAAD, CAPES, FAPEMIG (APQ-02755-SHA, APQ-03289-10,
APQ-02953-14, APQ-03642-12), SUS, CNPq (308157/2011-7, 308267/2014-1). Os
custos parciais da viagem foram financiados por uma bolsa de produtividade
científica do CNPq (308267/2014-1). VGH também é afiliado ao Instituto Nacional
de Ciência e Tecnologia em Comportamento, Cognição e Ensino da UFSCAR (CNPq
465686/2014-1, FAPESP 2014/50909-8).
DISCLAIMER: Os textos publicados não pretendem ser
reproduções fiéis das palestras. São antes reconstruções de memória, integrando
os conteúdos das palestras aos conhecimentos prévios do autor. Os textos podem ser sujeitos a erros e
imprecisões, uma vez que não passaram pelo processo de revisão por pares
adotados nos periódicos científicos, dos quais resulta uma melhoria
considerável da sua qualidade.
COMENTÁRIOS: São bem vindos.
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