1. O que é aprendizagem?
Aprendiazagem
é o processo pelo qual o cérebro-mente modifica sua estrutura em função da
experiência. A aprendizagem é o processo, a memória ou conhecimento o
resultado. O objetivo da aprendizagem é a modificação da memória de longo
prazo.
2. Existe um mecanismo neural genérico de
aprendizagem?
O
cérebro é concebido como uma grande rede associativa. A sinapse e não o
neurônio é a sua unidade funcional. A experiência modifica os padrões de
conectividade sináptica no cérebro. O mecanismo pelo qual os padrões de
conectividade se modificam são os mesmos no desenvolvimento, aprendizagem e
recuperação funcional. O envelhecimento reflete a redução da plasticidade
sináptica. O mecanismo neural da aprendizagem é a plasticidade sináptica
dependente de atividade ou lei de Hebb. Grupos de neurônios que são ativados
simultaneamente em função de algum estímulo evento ou experiência tendem a
reforçar sua conectividade sináptica, diferenciando-se em assembléias neurais
ou redes associadas a processos psicoógicos específicos. Grupos de neurônios
que não descarregam em sincronia têm sua conectividade mútua enfraquecida.
3. Quais são as principais formas de aprendizagem,
relevantes para o contexto escolar?
A
aprendizagem e memória podem ser não-declarativas ou declarativas. As memórias
não-declarativas são aquelas que não podem ser traduzidas em enunciados verbais
ou lógicos com valor de verdade. As principais formas de aprendizagem
não-declarativa relevantes para o contexto escolar são os condicionamentos
respondente e operante. As principais formas de aprendizagem declarativa são a
aprendizagem conceitual e factual.
4. O que é, qual é a base neurocognitiva
e qual a relevância educacional do condicionamento respondente?
O
condicionamento respondente, clássico ou pavloviano. é uma forma de
aprendizagem na qual um comportamento reflexo ou previamente adquirido passa a
ser eliciado por um estímulo que anteriormente não era eficiente em
desencadeá-lo. A emoção de medo é desencadeada por estímulos percebidos como ameaçadores,
tendo uma natureza reflexa. Experiências negativas na sala de aula,
relacionadas ao fracasso em resolver atividades, reprimenda por parte de pais e
professores ou chacota por parte dos colegas podem ser associadas a
experiências aversivas desencadeando medo ou ansiedade de desempenho. O
condicionamento de medo se estabelece a partir de modificações sinápticas na amígdala, as quais
são moduladas pelo córtex associativo peceptual (condicionamento
discriminante), hipocampo (condicionamento contextual) e corte pré-frontal
(extinção).
5. O que é, qual é a base neurocognitiva
e qual a relevância educacional do condicionamento operante?
O
condicionamento operante é a forma pela qual
comportamentos exploratórios do ambiente são associados a suas
conseqüências. Quando solicitada a resolver uma dada tarefa escolar a criança
pode proceder por tentativa e erro até encontrar a solução. Uma vez encontrada
a solução, a mesma é reforçada e tende a ser emitida no futuro sempre que a
criança se confrontar com um problema semelhante. O condicionamento operante é
o mecanismos da formação de hábitos e a aquisição de procedimentos. O mecanismo
neural do condicionamento operante é a formação de associações entre
representações do comportamento e das suas conseqüências hedônicas nos gânglios
da base. O processo de condicionamento operante é modulado pela atividade
dopaminégica oriunda do mesencéfalo. Sempre que
um comportamento é associado de forma inesperada a uma conseqüência, o
sistema dopaminérgico é ativado. O
sistema dopaminérgico desepenha então um papel importante na sinalização de
novidade, na curiosidade e na consolidação dos condicionamentos operantes.
6. Qual é a arquitetura cognitiva mínima
para a aprendizagem declarativa?
A
aprendizagem declarativa também se processa de modo associativo no cérebro. Mas
a sua arquitetura é um pouco mais complexa, dependendo da interação de sistemas
mais diferenciados. Uma arquitetura mínima para a aprendizagem declarativa é
comporta pela memória de longo prazo, memóerita de trabalho e motivação (vide
Figura 1).
Figura
1 – Arquitetura cognitiva simples para a aprendizagem escolar. A aprendizagem
depende de três componentes cognitivos. A memória de longo prazo é o sistema
dinâmico e ilimiatado quanto à capacidade de representação de conhecimento, o
qual é modificado permanentemente como resultado da aprendizagem. A memória de
trabalho é o componente ativo, com capacidade limitada, que armazena
temporariamente a informação, processando-a através de resgate a partir da
memória de longo prazo, reconfiguração de associações, regulação da atividade
mental e planejamento e controle das respostas. A motivação é a fonte
energética que mantém a memória de trabalho ativa enquanto for necessário para
que a aprendizagem se processe.
A
memória de longo prazo não é um repositório passivo de informação mas uma
estrutura dinâmica e flexível de conhecimento. A memória de longo prazo tem a
estrutura de uma rede associativa, na qual os conhecimentos são representados
de forma fragmentária e geograficamente dispersa por amplas regiões do córtex
cerebral. A memória de longo prazo facilita a aprendizagem na medida em que
permite a assimilação de informação nova à informação antiga. Simultaneamente,
as estruturas de conhecimento na memória de longo prazo se acomodam à nova
informação. Os fatos aritméticos são aprendidos em ordem crescente de
dificuldade. Primeiramente são apresentados os números menores (p. ex., 2 x 3)
e posteriormente os números maiores (3 x 2). O fato de que é mais fácil
processar 3 x 2 do que 2 x 3 sugere que a memoria semântica reorganiza as
representações dos fatos aritméticos e os
mesmos não são armazenados como simples cadeias de estímulos e
respostas.
A
memória de trabalho é o motor que ativa a memória de longo prazo durante a
aprendizagem. A memória de trabalho recebe e processa a informação oriunda do
ambiente. A memória de trabalho resgata e armazena a informação da memória de
longo prazo. Na memória de trabalho são comparadas, associadas e compiladas as
informações provenientes do ambiente e da memória de longo prazo. A memória de
trabalho corresponde a todos os sistemas neurais ativos em um determinado
momento e ao conteúdo dos quais o indivíduo tem acesso introspectivo. As
estruturas do córtex pré-frontal, principalmente dorsolateral, são responsáveis
pelos mecanismos associativos subjacentes à aprendizagem conceitual, tais como
abstração e categorização. O hipocampo está envolvido na consolidação da
aprendizagem conceitual como memória factual e no resgate da mesma. As
principais características da memória de trabalho são a duração temporal fugaz
e a limitação da capacidade de armazenamento e processamento. Se a informação
não é refrescada na memória de trabalho ela decai em alguns segundos. A capacidade representacional na memória de
trabalho é de 6 a 7 bits e a capacidade de processamento é menor ainda, de 4 a
5 bits.
A
motivação é a fonte energética que mantém o motor da memória de trabalho ativo.
As limitações de duração e capacidade da memória de trabalho fazem da
aprendizagem declarativa um processo complexo, que exige atenção e esforço. A
ativação da memória de trabalho pode ser aversiva. As pessoas gostam dos resultados
do pensamento, mas evitam o esforço de pensar. Ninguém nasce gostando de
estudar. O gosto pelo estudo é adquirido sendo mediado cognitivamente. Para
aprender a gostar de estudar o indivíduo precisa postergar a recompensa. Ou
seja, precisa abrir mão de uma recompensa
menor imediata, como brincar, por uma recomopensa maior porém abstrata e
projetada no futuro, como tirar boas notas ou passar no ENEM. A ativação da
memória de trabalho requer, portanto, persistência e motivação.
7. Como se processa a aprendizagem
declarativa?
Quando
surge uma situação problema, cria-se uma representação da mesma na memória de
trabalho. Inicia-se então o processo de busca na memória de longo prazo por uma
solução previamente adquirida. Caso seja encontrada uma solução na memória de
longo prazo, o problema está resolvido e o indivíduo pode tratar da vida.
Quando não existe uma solução previamente armazenada, duas são as alternativas:
buscar a solução no ambiente ou criar uma nova solução, adaptando recursos
previamente empregados para resolver problemas semelhantes. Quando a solução
está facilmente acessível no Prof. Google ou na Dra. Wikipedia o problema está
novamente resolvido. Quando não há uma solução de fácil acesso no ambiente, o indivíduo
precisa pensar.
Pensar
é uma atividade aversiva envolvendo processamento controlado, o qual requer
atenção, custa esforço, é demorado, tem capacidade limitada e é muito sujeito a
erro. As pessoas fogem do pensamento como o Diabo da Cruz. O pessoal somente
recorre ao pensamento em último caso. Assim sendo, a formação de hábitos ou
automatização é uma alternativa viável para reduzir a sobrecarga de memória de
trabalho subjacente ao pensamento. William James considerava que a educação é a
formação de hábitos e que a pessoa educada é aquela que cultiva bons hábitos. Quanto
mais problemas puderem ser resolvidos no piloto automático, através de soluções
previamente aprendidas e automatizadas, mais capacidade de processamento restará
para o pensamento criativo ou para o lazer. O processamento automático é rápido,
não requer atenção nem custa esforço, tem capacidade ilimitada e é pouco
sujeito a erro. O problema com o processamento automático é a falta de
flexibilidade e a especificidade de contexto. A solução de problemas novos
requer processamento controlado. A automatização ou criação de hábitos ou
conhecimento factual rapidamente resgatável é importante porque libera recursos
escassos de processamento na memória de trabalho. A automatização é, inclusive,
um pré-requisito para o pensamento crítico e criativo. O pensamento crítico e
criativo torna-se impossível se o indivíduo é forçado a gastar seus escassos e
preciosos recursos de processamento com as tarefas mais triviais. A seqüência
de ativação cerebral no processo de aquisição de habilidades vai da ativação de
regiões corticais anteriores nas fases iniciais. nas quais o processamento é
controlado, para a ativação progressiva de áreas corticais posteriores ou
subcorticais, à medida que ocorre a automatização.
8. De onde vem a motivação para o estudo
e como promove-la?
A
motivação para o estudo é adquirida, sendo mediada cognitivamente pelos
resultados e comportamentalmente pelo reforçamento. As fontes da motivação
podem ser endógenas ou exógenas. A inteligência e o temperamente são as principais
fontes de variação interindividual que afetam a motivação. Crianças mais
inteligentes têm mais facilidade e, portanto, são mais facilmente motiváveis
para o estudo. Crianças com temperamento impulsivo têm mais dificuldade para
postergar a recompensa e, portanto, para implementar a mediação cognitiva
necessária para adquirir o gosto pelo estudo.
As
fontes exógenas da motivação são as experiências de sucesso e as crenças dos
adultos. Quando a criança estuda e obtém um bom resultado, aumenta sua crença
de que ela consegue resolver um dado tipo de tarefa (auto-eficácia) e a motivação
para o estudo. Quando a criança obtém um resultado pior porque não se esforçou
ou porque a tarefa era muito acima das suas possibilidades, a auto-eficácia
diminui e com ela a motivação para o estudo. A experiência pessoal de sucesso é
a pedra fundamental da auto-eficácia. A persuasção verbal apenas ajuda a
destruir a auto-efiácia mas não a construí-la. A calibração do currículo à
capacidade do aluno é a chave para a promoção da auto-eficácia e motivação para
o estudo. Se o currículo é pecebido como muito difícil ou muito fácil, a
motivação diminui. A motivação aumenta quando o currículo é percebido como
estando ao alcance do individuo com um pequeno esforço.
As
crenças dos adultos são outro fator motivador poderoso. Se pais ou professores
acreditam que uma criança tem talento para aprender, a criança recebe mais
atenção, atenção de melhor qualidade, mais explicações, mais correções, mais
oportunidades para aprender e demonstrar seus conhecimentos, mais reforçadores
etc. Assim, a criança acaba aprendendo mais.
O
contrário acontece quando pais e professores acreditam que a criança tem menor
potencial para aprender ou quando o comportamento da criança é percebido como
inadequado. Nesses casos, o comportamento inadequado ou a dificuldade de
aprendizagem são colocados em evidência sob a forma de punições, tais como
reprimendas ou castigos. A conseqüência é que as dificuldades apenas aumentam e
não diminuem.
A
análise aplicada do comportamento desenvolveu ferramentas psicológicas eficazes
para promover a motivação para o estudo, tais como a aprendizagem sem erro
baseada na individualização do currículo, a atenção positiva e o reforçamento
diferencial.
9. Quais são as implicações educacionais
do conhecimento sobre os mecanismos neurocognitivos e comportamentais
implicados na aprendizagem?
Todas
as as formas de conhecimento, tais como hábitos, habilidades, procedimentos,
fatos, conceitos, atitudes e valores importam. Nenhuma forma de conhecimento ou
aprendizagem deve ser priorizada sobre as outras. Os métodos de ensino devem se
adquar ao tipo de conhecimento a ser aprendido. A aprendizagem por imitação e colaboração/descoberta
sobrecarregam a memória de trabalho em situações pouco estruturadas. A criança
tende a proceder por tentativa e erro, consumindo recursos escassos e preciosos
na descoberta da solução, a qual não é garantida, restando menos recursos para
a aprendizagem propriamente dita. A instrução, o exercício e a prática
desempenham um papel fundamental na aprendizagem conceitual e factual. Duas
estratégias instrucionais poderosas são os exemplos ilustrados e a instrução
programada. A motivação pode ser promovida através da aprendizagem sem erro,
atenção positiva e reforçamento diferencial.
No comments:
Post a Comment