Inúmeras
pesquisas na área de educação procuraram responder a essa pergunta. Tais
estudos foram sistematizados em diversas meta-análises. Hattie (2008)
sintetizou os resultados de mais de 800 meta-análises. Os resultados são
inequívocos, as crianças apendem mais e melhor pela instrução direta do que
pela abordagem construtivista. As principais características das intervenções
pedagógicas eficientes são a instrução explícita, uma base conceitual sólida e
estratégias procedimentais eficientes no contexto de prática estratégica
regular e cumulativa (Fuchs et al., 2012).
Por
construtivismo entenda-se a filosofia pedagógica de valorizar a atividade do
aluno, a “construção do conhecimento”. A idéia subjacente é que as crianças aprendem por conta própria,
interagindo com os colegas na resolução de situações-problema estruturadas pela
professora (Matthews, 2002).
A
professora propõe os problemas e os alunos devem buscar as soluções. O papel da
professora se reduz ao de um andaime, que lhes permite construir o
conhecimento. A professora interfere o mínimo possível, não demonstra, não sugere
estratégias nem corrige os alunos.
Os
alunos chegam às suas próprias conclusões, inventam suas próprias estratégias.
A professora não instrui nem demonstra. Se os alunos não intuem as estratégias
canônicas, culturalmente consagradas, fica por isso mesmo. O que se valoriza é
a espontaneidade, o engajamento dos alunos com a situação problema e a
construção do conhecimento a partir dos seus recursos cognitivos. A ênfase
recai sobre a compreensão e não sobre a memorização ou “transmissão de
conhecimento”.
No
método instrucional, a professora introduz uma questão para reflexão pelos
alunos. A seguir demonstra a solução ótima para o problema e os alunos emulam a
estratégia demonstrada pela professora em pequenos grupos e/ou individualmente.
A professora monitoriza o desempenho, corrige, demonstra novamente. Os alunos
começam praticando com problemas mais simples, podendo servir-se de materiais
concretos para representar os
componentes dos problemas. À medida que os alunos vão adquirindo maestria sobre
os problemas em um determinado nível, a professora vai demonstrando as
estratégias para resolver problemas crescentemente mais complexos etc. O método
consiste basicamente em instrução seguida de prática com exemplos demonstrados
(Sweller et al., 2011).
A
crença dos construtivistas é que seu método seja superior porque motiva mais as
crianças em função do caráter lúdico conferido às atividades, sendo ao mesmo
tempo mais eficiente por promover uma base conceitual sólida, baseada na
intuição do aluno. Será que é assim mesmo?
Uma
exame direto da eficácia relativa das abordagens construtivista e instrucional
foi realizado por Evelyn Kroesbergen da Universidade de Utrecht (Kroesbergen et
al., 2014). O foco do estudo foi a aprendizagem dos fatos de multiplicação em
crianças com dificuldades específicas de aprendizagem da matemática.
Duzentas
e cinqüenta e cinco crianças com idades entre oito e onze anos receberam 30
lições de meia hora sobre fatos de multiplicação à razão de duas aulas por
semana. As crianças foram divididas aleatoriamente em três grupos: a)
Construção: aulas estruturadas a partir da perspectiva construtivista; b)
Instrução: aulas estruturadas sob a forma de instrução seguida de exemplos
demonstrados e prática; c) Regular: aulas baseadas na didática habitual de cada
escola. Os desfechos foram avaliados comparando o desempenho no pré- e no
pós-teste em medidas de Motivação, Automatização dos fatos, Solução de
problemas e uso de Estratégias.
|Os
resultados foram muito claros (vide Tabela 1). O grupo Construção foi superior
ao grupo Regular em Motivação, Automaticidade e Solução de problemas, mas não
foi superior no uso de Estratégias. O grupo Instrução foi superior aos grupos
Regular e Construção em todos os quesitos avaliados.
Como o método instrucional se mostrou superior aos dois outros em todos os quesitos, os efeitos são específicos. Ou seja, não podem ser atribuídos apenas à atenção especial recebida pelas crianças.
Dois
resultados adicionais chamam atenção. A abordagem construtivista não foi superior
ao ensino instrucional no que se refere à Motivação e nem foi superior ao grupo
REegular no que se refere à diversidade de Estratégias empregadas. Esses
resultados contrariam frontalmente os pressupostos construtivistas de que a
abordagem seria mais motivadora bem como promotora da criatividade e do
pensamento crítico.
Os
resultados de Kroesbergen e cols. (2014) não são nem um pouco surpreendentes por
diversos motivos. Do ponto de vista cognitivo, a falta de estrutura, definição
clara do problema, demonstração e correção que caracteriza a abordagem
contrutivistga sobrecarrega a memória de trabalho das crianças (Kirshner et
al., 2010, Sweller et al., 2011).
Como
se sabe, os recursos de processamento são escassos na memória de trabalho. E
mais escassos ainda nas crianças que têm dificuldades (Raghubar et al., 2010).
Então, realmente não é surpreendente que as crianças aprendam menos. Na
abordagem construtivista, as crianças gastam seus parcos recursos cognitivos na
busca pela solução do problema e resta menos capacidade para memorizar o que
foi aprendido.
Os
resultados motivacionais também não são surpreendentes. A abordagem lúdica, informal
e ativa pode, a princípio, ser bem mais atraente para as crianças. Entretanto,
a instrução e exemplos demonstrados promovem a auto-eficácia (Pajares &
Schunk, 2002). Ou seja, a percepção pelo indivíduo de que ele domina uma técnica,
um conteúdo, de que ele sabe e é eficiente na resolução de um tipo de
problemas.
Sintetizando
os resultados até o momento, pode-se dizer que a construção do conhecimento é
divertida mas confunde as crianças, consumindo seus escassos recursos de
processamento. Por outro lado, a instrução direta pode ser tediosa, mas promove
a auto-eficácia.
O
terceiro resultado é menos surpreendente ainda. O fato de que as crianças do
Construção não foram superior ao grupo Regular no quesito Estratégias só
demonstra uma coisa. As crianças não precisam do construtivismo para pensar.
Elas pensam por conta própria. Mesmo as crianças do grupo Regular pensam, por
mais surpreendente que isso possa ser para os construtivistas. Não é apenas em settings
construtivistas que as crianças pensam. As crianças pensam o tempo todo e ficam
tentando resolver os problemas que lhes são apresentados. Nâo é só na hora do
teatrco construtivista que as crianças pensam e desenvolvem o “raciocínio
crítico”.
As
razões para a persistência da lenga-lenga construtivista podem parecer um
mistério. Mayer (2004) chamou atenção para o fato de que, desde a Década de
1960 vêm se acumulando as evidências de que o construtivismo não funciona. Mas
o construtivismo é como a Fênix, ressurge das cinzas, apenas com nomes diferentes.
De acordo com Mayer, a cada vez que uma
estratégia construtivista se mostra ineficiente, a abordagem se disfarça sob um
novo nome e o mesmo vinho velho é servido em uma garrafa nova. Foi assim que
surgiram várias ondas de “minimal guidance”, “collaborative learning”, “discovery
learning” etc. A mais nova onda é o “problem-based learning”, que está
inclusive infestando as faculdades de medicina pelo País afora. E tudo isso
contra a vontade dos pais e contra a opinião dos matemáticos profissionais (Klein,
2003).
O
mistério apenas se desvanece quando percebemos que as razões para a
sobrevivência do construtivismo são ideológicas. O construtivismo é tão
resiliente porque compatível com a ideologia esquerdistas (Freire, 1981). O construtivismo é reprimido mas retorna porque é um dos principais
instrumentos doutrinários da esquerda (Bernardin, 2012). A consciência crítica
que ele pretende desenvolver é a consciência de classe, de gênero, de etnia
etc. Ou seja, a criação de categorias sociais de indivíduos em conflito umas
com as outras e a tematização de todos os assuntos humanos em termos de
relações de poder e dominação.
Esses
são os reais objetivos do construtivismo. Aprender os fatos aritméticos, tirar
uma nota boa no PISA, passar no ENEM, fazer uma faculdade, arrumar um bom emprego,
subir na vida: tudo isso é secundário. O que importa é questionar a ordem
estabelecida. Realmente, precisamos refletir sobre os objetivos da educação.
O
que construtivistas respondem quando são confrontados com as evidências? Um dos
chavões prediletos é dizer que a filosofia construtivista jamais foi
adequadamente implantada. Ou seja, que as crenças e práticas tradicionais de
ensino, baseadas na decoreba são muito resistentes e difíceis de exterminar. Em
grnade parte, isso pode ser verdade. Como o socialismo, o construtivismo real
nunca foi adequadamente implantado. Quem sabe dessa vez vai?
Não
menos verdade, entretanto, é o fato de que a ideologia construtivista domina a
formação dos professores há décadas (). Como o construtivismo é muito influente
do ponto de vista ideológico, as professoras acabam se confundindo e surge uma
quimera extremamente original, o “construtivismo da reguada”. O construtivismo
da reguada impera no Brasil. As professoras
não recebem uma formação adequada e têm muito pouco conhecimento para
transmitir aos alunos. Mas o conhecimento transmitido não importa. O que importa é o conhecimento construído.
Como os alunos não constroem o tal conhecimento, então dá-lhe reguada neles.
Obs.
Se você ficou interessado e deseja ler mais alguma coisa em Português, pode dar
uma olhada em Haase & Júlio-Costa (2015) e Haase e cols. (2015).
REFERÊNCIAS
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P. (2012). Maquiavel pedagogo. Ou o ministério da reforma psicológica.
Campinas: Ecclesia/Vide.
Freire,
P. (1981). Pedagogia do oprimido (9a. ed.). Rio de Janeiro: Paz e Terra.
Fuchs, L. S., Fuchs, D., & Compton, D. L. (2012).
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Haase,
V. G. & Júlio-Costa, A. (2015). Ciência cognitiva e educação: um diálogo
necessário porém muito difícil. Associação Basileira do Déficit de Atenção.
Haase,
V. G., Lima, B. A.C. R. & Júlio-Costa, A. (2015). A lenda do
construtivismo. In R. Ekuni, L. Zeggio & O. F. A. Bueno (eds.) Caçadores de
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Hattie, J. C. (2009). Visible learning. A synthesis of
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Kirshner, P. A., Sweller, J., & Clark, R. (2010).
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