Compartilhei essa foto da Ângela Ratkiewicz. O pessoal lá na Polônia construiu essa casa para não esquecer do horror do comunismo. Ela pode também representar a inversão contemporânea de valores.
Mas, para mim, ela tem um significado especial. Lembrou-de de uma tarefa neuropsicológica para crianças em idade pré-escolar que eu adoro. A tarefa consiste em pedir à criança que desenhe uma casa. A seguir, pede-se que a criança desenhe uma casa impossível. Depois a operação é repetida com um animal e com uma pessoa como objetos dos desenhos. As crianças adoram essa tarefa. E eu me divirto mais ainda. Alguns ficam embarcados: “Como assim, impossível?” Ao que o examinador responde: “Uma casa que não pode existir”. O objetivo principal da tarefa é verificar se a criança pode representar o conceito de impossibilidade usando alguma estratégia gráfica. Mas dá pra ter uma idéia também da inteligência, uma vez que a impossibilidade é um conceito abstrato, bem como da criatividade e fantasia da criança. Algumas crianças ficam ansiosas, o que também é diagnóstico. Algumas crianças não conseguem utilizar-se de uma estratégia gráfica e simplesmente repetem a casa anterior ou inventam alguma hisorinha. Outras produzem de forma exuberanda, casas viradas de cabeça para baixo, quimeras, homens com cabelos de cobra, rabo de fogo e mãos de garras. Ou então cabeças com asas de helicópteros ou asas de anjo etc. Não há limites. É uma farra. Sempre que examino uma criança, começo por essa tarefa. É uma bela maneira de estabelecer rapport e de inferir uma montoeira de coisas. Sempre que tenho oportunidade de aplicar essa tarefa com alguma criança, penso na felicidade que conquistei para mim. Há 30 anos, minha profissão consiste em me divertir com as crianças e ajudá-las a desenvolverem mais felizes. Nos limites daquilo que nós, humanos, conseguimos.
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