Um grande contingente de alunos não gosta da escola. A evasão escolar foi identificada como umimportante fator de risco para a criminalidade.
Qual é o papel das professoras na aversão e fracasso escolar?
Aqui vou defender o lado das professoras. Grande parte das
dificuldades atuais se origina do fato de que as demandas às professoras só
aumentaram nos últimos anos, sem que houvesse uma formação correspondente. A
coisa toda começa pela definição da missão da escola. O pensamento
politicamente correto pressupõe que os objetivos da escola não se restringer a
ensinar, mas são mais amplos, compreendendo a educação do cidadão de forma mais
ampla. Ao invés de apenas transmitir conhecimento de uma geração para outra, a
missão da escola deveria ser o desenvolvimento da capacidade de pensamento
crítico.
Isso é muito bonito na teoria. Na prática a coisa é bem
diferente. Atualmente a escola não dá conta nem de ensinar o básico, ou seja, a
ler as palavras, compreender um texto e fazer as contas. Com é possível
desenvolver o pensamento crítico se o aluno não consegue compreender o que lê?
Teoricamente, a aprendizagem pela descoberta e colaboração,
em situações contextualizadas de resolução de problemas relevantes para a
criança é enfatizada. A ênfase se desvia da memorização de conhecimento para o
processo de construção social do conhecimento. A descoberta e interação
socialmente contextualizada deveriam estimular a autonomia e curiosidade do
aluno. Novamente, isso só funciona na teoria. Na prática, a falta de
vocabulário, ou seja de conhecimento memorizado de mundo, é um dos principais
obstáculos a compreensão leitora pelas crianças pobres.
Conceber a missão da escola como educação e não apenas como
ensino coloca demandas às professoras que são estranhas à sua formação e à
capacidade de processamento e atuação humanos. Vejam o caso da inclusão. A
partir de uma estimativa conservadora, pode-se esperar que a prevalência de
necessidades especiais na população escolar situe-se em torno de 10% a 20%.
Isso significa que em uma classe de 30 alunos a professora precisará atender em
torno de seis alunos de inclusão: com dislexia, discalculia, TDAH, deficiência
intelectual, autismo etc. Isso sem falar nas dificuldades visuais, auditivas,
ansiedade, transtornos de conduta etc.
O sistema educacional fornece algum tipo de suporte para as
professoras, com o intuito de subsidiá-las na consecução dessa nobre missão?
Nenhum. Nadica de pitibiribas. As crianças de inclusão são jogadas nas salas de
aula e a professora que se vire. Sem qualquer tipo de apoio, supervisão ou
formação adequada.
E o que é pior ainda, a formação das professoras é
inadequada. A orientação epistemológica da formação das professoras passa longe
do método científico, da pesquisa quantitativa, do teste de hipóteses, da
psicologia cognitiva e comportamental, das neurociências etc. A formação das professoras
é politicamente enviesada e anti-científica. Quando a professora cai no mundo
real da sala de aula, ela experimenta uma dissonância cognitiva brutal, que evoluiu para o total desamparao. A
professora percebe que não recebeu uma formação adequada para enfrentar os
desafios que lhe são impostos. As professoras precisam então sair correndo
atrás de cursos de aperfeiçoamento e especialização, na tentativa de suprir as
lacunas da sua formação.
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