Wednesday, February 03, 2016

Por que estudar as síndromes neuropsicológicas? Neuropsicologia como dissecção cognitiva


É claro que os fonoaudiólogos sempre estudaram e trataram e continuam investigando e reabilitando as afasias, alexias e agrafias. Mas na neuropsicologia brasileira, tal como praticada por muitos psicólogos, o interesse pelas síndromes neuropsicológicas clássicas não é muito acentuado e tem diminuído com os anos.

O foco de atenção dos neuropsicológos brasileiros tem se voltado muito para os transtornos das funções executivas e da memória de trabalho, principalmente em doenças psiquiátricas. demências e transtornos do desenvolvimento.



A memória de trabalho e as funções executivas são importantes. Mas esses construtos são muito inespecíficos. São inespecíficos do ponto de vista nosológico: Todas as formas de comprometimento neuropsiquiátrico se manifestam por déficits nessas funções.

E são inespecíficos também do ponto de vista estrutural, anátomo-funcional. A memória de trabalho e as funções executivas são funções muito complexas, de altíssimo nível, requerendo portanto a integração de atividade geograficamente dispersa por inúmeros áreas corticais e subcorticais.

Não é de estranhar, portanto, que alguns “neuropsicológos” brasileiros demonstrem desconforto com a definição da área como sendo o estudo das correlações anátomo-clinicas com base no pressuposto localizacionista.

Pudera, um grande numéro de “neuropsicológos” estuda apenas as funções executivas e a memória de trabalho. Concentrar o foco de atenção sobre as funções menos localizáveis tem como conseqüência desvalorizar o localizacionismo das funções mentais como fundamento teórico e metodológico da neuropsicologia.

O remédio para esses males é aprender mais, estudar mais as síndromes neuropsicológicas clássicas: agnosia, apraxia dos membros, apraxia construtiva, heminegligência visoespacial, síndrome de Bálint, síndrome de Gerstmann, acalculia etc. Algumas dessas síndromes são extremamemente freqüentes em pacientes neurológicos. Mas, mesmo que outras, tais como as agnosias, sejam relativamente raras, elas se revestem de um importância paradigmática do ponto de vista teórico e metodológico. É o conhecimento sobre as síndromes clássicas que permite ao neuropsicolóo correlacionar os padrões de funções preservadas e comprometidas com a estrutura funcional do cérebro.


A neuropsicologia é uma dissecção cognitiva. Avaliação neuropsicológica não é uma máquina de fazer salsicha: Coloca carne de um lado, dá manivela e sai uma lingüiça do outro. A dissecção cognitiva exige interpretação dos padrões de funções preservadas e comprometidas. Existem duas grandes abordagens para a interpretação neuropsicológica: os modelos cognitivos e as síndromes clássicas. Ambos precisam ser aprendidos.

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