É claro que os
fonoaudiólogos sempre estudaram e trataram e continuam investigando e
reabilitando as afasias, alexias e agrafias. Mas na neuropsicologia brasileira,
tal como praticada por muitos psicólogos, o interesse pelas síndromes
neuropsicológicas clássicas não é muito acentuado e tem diminuído com os anos.
O foco de atenção dos
neuropsicológos brasileiros tem se voltado muito para os transtornos das
funções executivas e da memória de trabalho, principalmente em doenças
psiquiátricas. demências e transtornos do desenvolvimento.
A memória de trabalho
e as funções executivas são importantes. Mas esses construtos são muito
inespecíficos. São inespecíficos do ponto de vista nosológico: Todas as formas
de comprometimento neuropsiquiátrico se manifestam por déficits nessas funções.
E são inespecíficos
também do ponto de vista estrutural, anátomo-funcional. A memória de trabalho e
as funções executivas são funções muito complexas, de altíssimo nível,
requerendo portanto a integração de atividade geograficamente dispersa por
inúmeros áreas corticais e subcorticais.
Não é de estranhar,
portanto, que alguns “neuropsicológos” brasileiros demonstrem desconforto com a
definição da área como sendo o estudo das correlações anátomo-clinicas com base
no pressuposto localizacionista.
Pudera, um grande
numéro de “neuropsicológos” estuda apenas as funções executivas e a memória de
trabalho. Concentrar o foco de atenção sobre as funções menos localizáveis tem
como conseqüência desvalorizar o localizacionismo das funções mentais como
fundamento teórico e metodológico da neuropsicologia.
O remédio para esses
males é aprender mais, estudar mais as síndromes neuropsicológicas clássicas:
agnosia, apraxia dos membros, apraxia construtiva, heminegligência visoespacial,
síndrome de Bálint, síndrome de Gerstmann, acalculia etc. Algumas dessas
síndromes são extremamemente freqüentes em pacientes neurológicos. Mas, mesmo
que outras, tais como as agnosias, sejam relativamente raras, elas se revestem
de um importância paradigmática do ponto de vista teórico e metodológico. É o
conhecimento sobre as síndromes clássicas que permite ao neuropsicolóo correlacionar
os padrões de funções preservadas e comprometidas com a estrutura funcional do
cérebro.
A neuropsicologia é
uma dissecção cognitiva. Avaliação neuropsicológica não é uma máquina de fazer
salsicha: Coloca carne de um lado, dá manivela e sai uma lingüiça do outro. A
dissecção cognitiva exige interpretação dos padrões de funções preservadas e
comprometidas. Existem duas grandes abordagens para a interpretação
neuropsicológica: os modelos cognitivos e as síndromes clássicas. Ambos
precisam ser aprendidos.
No comments:
Post a Comment