Sunday, May 14, 2017

EVOLUÇÃO E INTELIGÊNCIA: A HIPÓTESE DA SUPREMACIA ECOLÓGICA

(Publicado originialmente no blog do LND-UFMG)

O Richard D. Alexander, nascido em 1929, professor emérito da Universidade de Michigan e um dos meus ídolos intelectuais, disponibilizou na internet suas principais publicações (http://www.richarddalexander.com/). O Richard D. Alexander é um dos cofundadores da sociobiologia e autor da hipótese da supremacia ecológica para explicar a evolução humana. Seus principais livros de interesse psicológico são “Darwinism and human affairs” de 1979 e “Biology of moral systems” de 1985.
 
A hipótese da supremacia ecológica, é o melhor palpite de que dispomos para explicar a evolução da inteligência geral. A idéia do Richard D. Alexander é a seguinte. A partir de um determinado momento na evolução a espécie humana adquiriu supremacia ecológica. Ou seja, eliminou a concorrência e adquiriu controle sobre os recursos naturais. A partir deste momento, a principal pressão de seleção passou a ser intraespecífica e não mais interespecífica. O sucesso evolutivo passou a exigir controle crescente sobre os recursos ecológicos e sociais disponíveis bem como a produção de novos recursos. Isto favoreceu a evolução de mecanismos cognitivos adequados para lidar com os desafios da vida em grupos sociais progressivamente maiores e mais complexos. Isto é, desafios relacionados à cooperação e à competição intraespecífica. A interação social se caracteriza pela imponderabilidade. Não dá pra lidar com os outros e com os grupos sociais apenas no piloto automático. Houve a necessidade então, de evoluir mecanismos controlados de processamento, que permitissem formas mais deliberadas e estratégicas de processamento de informação. Daí que surgiu a inteligência geral.


Uma consequência importante da supremacia ecológica é o surgimento da cultura e de uma evolução cultural progressivamente acelerada. O acúmulo de cultura resultou no surgimento de uma pedagogia, isto é, de uma tecnologia para transferir o legado cultural das gerações anteriores para as subsequentes. O legado cultural cumulativo não pode ser adquirido apenas no piloto automático. Ou seja, para enfrentar os desafios do Mundo contemporâneo não basta adquirir de forma espontânea, através da interação social natural, aquelas habilidades que constituem o repertório biológico primário da natureza humana. Há a necessidade de um esforço deliberado e estratégico no sentido de adquirir fatos, conceitos e habilidades cada vez mais complexas. Para isto é que existe a pedagogia. A pedagogia deve ensinar às crianças aquilo que elas não aprenderiam por conta própria. Ninguém precisa ser ensinado para adquirir habilidades para as quais está geneticamente programado. O pulo do gato é adquirir habilidades, tais como a lectoescrita e a aritmética, que constituem derivativos culturais, exaptações para as quais o nosso cérebro não está geneticamente programado.


A abordagem construtivista ignora completamente o legado evolutivo da espécie humana. Se fosse tomado ao pé da letra, o construtivismo permitiria às crianças aprender apenas aquilo que elas aprenderiam por conta própria, de qualquer maneira. O desafio, a experiência, a descoberta, a atividade são extremamente importantes para a aprendizagem. Mas não bastam. A instrução formal não pode ser negligenciada. Sob pena de exigirmos que cada geração reinvente a roda.


 Recomendações de leitura

 Richard D. Alexander: http://www.richarddalexander.com/

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