O QUE É DISCALCULIA DO DESENVOLVIMENTO?
Discalculia do
desenvolvimento é um transtorno específico de aprendizagem caracterizado por
dificuldades persistentes com a aprendizagem da aritmética, sem que se possa
identificar outras causas primárias que expliquem as dificuldades. Diversos fatores concorrem para que uma criança apresente dificuldades de aprendizagem da matemática. Entre os diversos fatores
que contribuem para a dificuldade de aprendizagem da aritmética podem ser
mencionadas a falta de estimulação e a carência sócio-cultural e econômica,
experiências inadequadas de ensino, fatores motivacionais e emocionais, tais
como a fobia de matemática, déficits neurossensoriais e intelectuais etc.
Quando a criança apresenta dificuldades crônicas de aprendizagem da matemática
sem que seja reconhecido como contribuinte primário quaisquer um dos fatores
mencionados acima, fala-se em discalculia específica de evolução ou discalculia
do desenvolvimento. Tudo isso quer dizer que a discalculia do desenvolvimento é uma característica inerente ao indivíduo, de natureza constitucional.
É importante salientar que o termo discalculia não se aplica a qualquer tipo de dificuldade de aprendizagem de matemática. A discalculia é um transtorno grave da aprendizagem da aritmética. O indivíduo tem dificuldades para realizar as operações numéricas e aritméticas mais simples. Aquelas que as crianças aprendem nos quatro primeiros anos de esccolarização formal.
As dificuldades assaociadas à discalculia surgem nos primeiros anos de escolarização. Ainda na educação infantil. Dificuldades de aprendizagem que surgem mais tarde, p. ex., quando o aluno começa a aprender álgebra, têm uma probabilidade muito menor de sere causadas por uma discalculia.
COMO É FEITO O DIAGNÓSTICO DE DISCALCULIA DO DESENVOLVIMENTO?
O diagnóstico de
discalculia exige a realização de uma avaliação clinica com o objetivo de
determinar a presença de inteligência normal, defasagem de pelo menos dois anos
no rendimento escolar, além da ausência de outros fatores neurológicos,
pedagógicos ou sócio-emocionais que possam estar contribuindo de forma decisiva
para o problema. A suspeita diagnóstica de discalculia do desenvolvimento pode
ser levantada por qualquer profissional das áreas de saúde ou educação. Mas o
diagnóstico exige, na maioria das vezes, a concorrência de especialistas de
diversas áreas. Os profissionais da medicina, p. ex., podem contribuir para a
exclusão de problemas neurossensoriais que possam estar prejudicando a
aprendizagem. As profissionais de psicologia contribuem com a avaliação da
inteligência, do rendimento escolar, bem como avaliação neuropsicológica etc.
Dois são os critérios
principais para o diagnóstico de discalculia: o critério de discrepañcia e o
critério de resposta a intervenção. O critério de discrepância postula que a
criança deve ter uma defasagem entre o seu rendimento em matemática e o seu QI
ou entre o rendimento em matemática e a série que está freqüentando.
O critério de
resposta à intervenação exige que o diagnostico somente seja realizado após ter
sido constatado que as dificuldades persistem mesmo após a condução de
intervenções pedagógicas bem planejadas e conduzidas.
QUAL É A PREVALÊNCIA DE DISCALCULIA DO DESENVOLVIMENTO?
A prevalência ou
freqüência de ocorrência da discalculia do desenvolvimento na população em
idade escolar é muito semelhante à da dislexia do desenvolvimento ou
dificuldades para aprendizagem da leitura. Não existem estudos realizados no
Brasil, mas em diversos países do Mundo a prevalência oscila entre 3% e 6%. Um
dos objetivos do projeto é, justamente, determinar a prevalência de discalculia
do desenvolvimento para a cidade de Belo Horizonte.
POR QUE O DIAGNÓSTICO DE DISCALCULIA É IMPORTANTE?
Além de ser muito
freqüente, a discalculia do desenvolvimento compromete o desenvolvimento do
indivíduo de diversas formas: 1) contribui para a redução da escolarização e da
qualificação profissional; 2) afeta o bem-estar do indivíduo e da família,
causando estresse, desmoralizando a criança, diminuído sua auto-estima, a
motivação para o estudo e podendo ser um fator contributório para formas de
transtornos mentais; 3) a frustração associada às dificuldades crônicas de
aprendizagem associa-se ao surgimento de comportamentos desadaptativos do tipo
desobediência, agressividade e comportamentos antisociais. De um modo geral, a
educação matemática insuficiente compromete o funcionamento do indivíduo na
vida cotidiana e social, sendo um dos principais fatores associados com
desemprego e renda inferior.
QUAIS SÃO AS CARACTERÍSTICAS QUE PERMITEM AOS PAIS E PROFESSORES SUSPEITAR QUE UMA CRIANÇA APRESENTA DISCALCULIA DO DESENVOLVIMENTO?
Em primeiro lugar,
obviamente, as notas baixas em matemática. Mas existem outras características
que são chamativas. As crianças com discalculia do desenvolvimento podem, p.
ex., apresentar dificuldades para se orientar no tempo ou para estimar a
quantidade de objetos ou tempo que necessitam para realizar uma dada tarefa.
Nas atividades escolares estas crianças têm dificuldades persistentes com a
realização de operações aritméticas, precisando contar nos dedos além da idade
esperada, e, principalmente, tendo dificuldades para memorizar os fatos
aritméticos (tabuada). Além disto, um número significativo de crianças com
discalculia desenvolve sintomas de ansiedade e aversão á aprendizagem da
aritmética. Entre os sintomas freqüentemente associados, mas que não fazem
parte da síndrome, podem ser mencionadas as dificuldades de coordenação motora,
desenho, leitura e escrita, comportamento social e agitação ou dificuldades de
concentração.
QUAIS SÃO OS TIPOS EXISTENTES DE DISCALCULIA DO DESENVOLVVIMENTO?
Existem várias
fatores ou mecanismos cognitivos que contribuem para as dificuldades de
aprendizagem da aritmética. Algumas crianças têm dificuldades de aprendizagem
da aritmética associadas a problemas com a linguagem escrita. Cerca de 40% das
crianças com discalculia do desenvolvimento apresentam dificuldades associadas
de aprendizagem da aritméticas. Nas crianças com dislexia as dificuldades
aparecem sob a forma de déficits na leitura dos símbolos ou operadores aritméticos:
“+”, “_”, “X”, “/”. Freqüentemente as crianças disléxicas também apresentam
dificuldades com a memorização dos fatos aritméticos, precisando fazer contas
com os dedos.
Um outro grupo de
crianças com dificuldades persistentes de aprendizagem da aritmética apresenta
sintomas associados do transtorno do déficit de atenção por hiperatividade,
caracterizados por déficits de concentração, impulsividade e agitação. Estas
crianças têm dificuldades de memória que as impedem de armazenar corretamente
os fatos aritméticos. A criança começa a ler uma conta, aí se distrai, já não
se lembra mais o que fazer, aprende errado etc.
Um terceiro grupo de
crianças com discalculia do desenvolvimento têm déficits associados a problemas
no processamento visoespacial. A notação arábica permite que diversas operações
aritméticas sejam realizadas por meio de algoritmos que facilitam os cálculos.
Ocorre que os algoritmos arábicos exigem que o indivíduo tenha a capacidade de
representar e manipular informações de natureza visoespacial P. ex., o sistema
notacional arábico se baseia no conceito de valor posicional. Isto é, conforme
a posição ocupada pelo algarismo, da direita para a esquerda, ele vai assumir o
valor de um múltiplo de 10. Este é um dos conceitos mais difíceis para diversas
crianças com discalculia. As dificuldades com o valor posicional se tornam mais
evidentes quando é necessário usar os algoritmos arábicos para operações com
números de dois ou mais algarismos que exigem empréstimos entre as casas.
Problemas neuropsicológicos que afetam o processamento das noções visuais de
espaço podem, portanto, comprometer a aprendizagem da aritmética.
Finalmente, algumas
crianças com discalculia apresentam deficiências na própria noção de número. Os
seres humanos dispõem de dois sistemas principais para representar as noções de
número ou magnitude, um sistema aproximativo e um sistema exato. O sistema
aproximativo ou inexato é de natureza não-simbólica, sendo muito importante
quando queremos estimar, de forma grosseira, o tempo necessário para realizar
uma tarefa, ou a quantidade de um certo ingrediente que se deseja acrescentar
em uma receita. A representação não-simbólica de numerosidade já é observada em
bebês de algumas semanas, bem como em animais. A representação precisa de
número depende da interação do sistema não-simbólico com a linguagem. É somente
através dos símbolos verbais ou algarismos arábicos que conseguimos representar
de forma exata as quantidades. A criança adquire a noção precisa de
numerosidade aprendendo a contar. As evidências disponíveis sugerem que algumas
crianças com discalculia do desenvolvimento têm dificuldades mais graves,
devidas a uma insuficiência de desenvolvimento da própria noção de número.
POR QUE É IMPORTANTE RECONHECEER O TIPO DE DISCALCULIA DO DESENVOLVIMENTO APRESENTADO PELO ALUNO?
A importância da
caracterização do perfil neuropsicológico de discalculia se relaciona às
intervenções pedagógicas. Se a dificuldade é mais verbal, os déficits podem ser
compensados através de estratégias de estimação não-simbólica. Se o déficit é
mais espacial, o ensino deve se basear em estratégias verbais. Caso,
entretanto, haja evidências de um comprometimento do próprio conceito de número
a situação é mais complexa. Há pouca coisa que se possa fazer por estes
indivíduos. Felizmente, estes casos são raros. Mesmo nos casos de déficits no
próprio conceito de numerosidade o reconhecimento da natureza do problema é o
primeiro passo para ajudar o indivíduo, a família e os educadores a aceitá-los.
CONTAR NOS DEDOS AJUDA OU ATRAPALHA?
Não, contar nos dedos
não é anormal. Todos seres humanos aprendem a contar usando os dedos. Uma
evidência neuropsicológica importante para isto é que as áreas cerebrais, no
lobo parietal, que representam os números são vizinhas àquelas que representam
os dedos. Crianças em idade pré-escolar que usam os dedos de forma eficiente
para contar e realizar operações têm desempenho superior em aritmética na idade
escolar. O treinamento do uso dos dedos na idade pré-escolar promove a
aprendizagem da aritmética. As crianças deixam de contar sistematicamente nos
dedos na transição entre a 2ª. e a 3ª. série, quando automatizam a tabuada.
Esporadicamente, as crianças ainda lançam mão da estratégia de contar nos dedos
e isto não é anormal. A persistência do uso sistemático dos dedos associada á deficiência
na memorização da tabuada constitui, entretanto, um sinal de alerta após uma
certa idade.
QUAL É A ETIOLOGIA DA DISCALCULIA DO DESENVOLVIMENTO?
As causas das
dificuldades crônicas e persistentes de aprendizagem da aritmética não associadas
a problemas pedagógicos, motivacionais, intelectuais ou sócio-culturais ainda
não estão definitivamente estabelecidas. As evidências indicam uma disfunção
neurológica de origem genética. As evidências para isto são relacionadas a 1)
comorbidade entre discalculia do desenvolvimento e outros transtornos
cognitivos de origem neurológica, 2) agregação familiar e herdabilidade elevada
das dificuldades de aprendizagem da aritmética, 3) presença de discalculia do
desenvolvimento como um sintoma central em muitas síndromes genéticas. Algumas
formas de discalculia do desenvolvimento se associem a variações no código
genético presentes em algumas síndromes genéticas. Alguns indivíduos com formas
frustras de síndromes genéticas, tais como a síndrome de Turner e síndrome
velocardiofacial, podem apresentar apenas dificuldades de aprendizagem da
matemática, sem os outros sintomas.
O QUE É ANSIEDDE MATEMÁTICA?
Ansiedade matemática
é um tipo de transtorno fóbico apresentado por alguns indivíduos. Geralmente,
em decorrência de alguma experiência negativa com a aprendizagem de matemática
o indivíduo desenvolve um baixo auto-conceito no quanto à sua habilidade de
aprender matemática. A pessoa com fobia de matemática desenvolve sintomas de
ansiedade quando pensa no assunto ou quando se confronta com a necessidade de
realizar operações aritméticas ou estudar o assunto. A ansiedade matemática
pode causar comportamentos evitativos em relação ao assunto, compromentendo o
desenvolvimento educacional do indivíduo. Sabe-se que a ansiedade matemática é
comum na população, que ela é socialmente mais aceita do que as dificuldades de
aprendizagem da leitura. Não está clara a relação entre ansiedade matemática e
outras formas de transtorno de ansiedade. É sabido também que a comportamento
fóbico em relação à matemática está presente nos indivíduos com discalculia.
Mas não se sabe exatamente qual é a freqüência de indivíduos fóbicos que não
apresentam discalculia.
EXISTEM TRATAMENTOS EFICAZES PARA A DISCALCULIA DO DESENVOLVIMENTO?
Existem sim.
Idealmente, os transtornos de aprendizagem deve ser tratados a partir de um
conceito multidisciplinar, biopsicossocial. A avaliação deve ser abrangente e
considerar todos os possíveis fatores que possam estar contribuindo para o
problema. O cerne do atendimento é psicopedagógico, mas outros profissionais
podem contribuir de forma significativa. O médico neurologista, p. ex., pode
excluir e/ou tratar fatores agravantes, tais como transtornos de ansiedade,
depressão hiperatividade, epilepsia etc. As psicólogas desempenham um papel
importante no diagnóstico do potencial intelectual, perfil neuropsicológico bem
como diagnóstico e tratamento de fatores motivacionais e afetivos correlatos.
Outros profissionais, como fonoaudiólogas e terapeutas ocupacionais podem
contribur significativamente no atendimento de dificuldades da linguagem e/ou
da coordenação motora, atenção etc. O ideal é que o plano de tratamento seja
formulado de forma colaborativa entre a criança, os pais, as educadoras e os
demais profissionais. Uma avaliação neuropsicológica permite reconhecer os
pontos fortes e fracos da crianças, contribuindo para o planejamento das
estratégias mais eficazes de intervenção. O tratamento deve focalizar os níveis
orgânico, educacional e psicológico. Apesar de o tratamento ser
multidisciplinar, nem todas as intervenções devem ser realizas simultaneamente.
O tratamento é implementado a longo prazo e envolve um custo enorme em termos
de recursos de trabalho e tempo, emocionais, financeiros etc. Devem ser estabelecidas
prioridades, de comum acordo entre os envolvidos. Nenhum tratamento será eficaz
se não for aceito pelo cliente principal que é a criança. É preciso considerar
também e fazer bom uso dos recursos disponíveis na comunidade. O atendimento
deve ser coordenado por um profissional de referência, o chamado case manager,
no qual a família e o cliente confiam e o qual conhece a fundo o caso e as
necessidades da criança.
COMO OS FATORES MOTIVACIONAIS INFLUENCIAM A APRENDIZAGEM DA MATEMÁTICA?
Os seres humanos
somente se motivam para fazer aquilo que percebem estar ao alcance da sua
competência. Quando a pessoa acredita que ela consegue realizar uma tarefa com
um pequeno esforço, ela irá dispender energia na realização da mesma. Caso a pessoa
perceba a tarefa como estando acima do seu alcance, ela se desmotiva. As
dificuldades de aprendizagem desmotivam e desmoralizam a criança, além de
desgastarem as relações familiares. Crianças, pais e educadoras ficam ansiosas
e frustradas em função do mau rendimento escolar. A atenção dos pais e
educadores concentra-se nas dificuldades, desviando-se dos comportamentos
adaptativos das crianças, os quais são dados de barato. O foco nas dificuldades
e negligência dos comportamentos adaptativos constitui uma forma de
reforçamento diferencial, o qual agrava ainda mais o problema.
Confrontada com
dificuldades persistentes, com um nível de exigência percebido como acima das
suas possibilidades, percebendo a ansiedade comunicada de forma implícita pelos
adultos, a criança vai progressivamente se desmoralizando e se desmotivando
para o estudo. O passo seguinte neste contínuo é o agravamento das dificuldades
de aprendizagem acompanhado do surgimento e/ou agravamento das dificuldades
disciplinares e comportamentais freqüentemente comórbidas com os transtornos de
aprendizagem.
Uma das formas mais
eficazes de atenuar as dificuldades motivacionais e ajudar a resolver os
problemas de aprendizagem é representado pela proposta da aprendizagem sem
erro. A aprendizagem sem erro se baseia no pressuposto de que o erro interfere
de diferentes maneiras com a aprendizagem. Após aprender errado o trabalho é
dobrado para desaprender o errado e aprender o certo. O erro interfere com a
aprendizagem. O fracasso frusta, desmotiva e desmoraliza. O primeiro passo
então é realizar um diagnóstico preciso do perfil de pontos fracos e fortes, do
domínio dos conteúdos curriculares e do estilo de aprendizagem e pensamento do
aluno.
A partir do
diagnóstico do nível de domínio curricular, do estilo cognitivo e do perfil de
pontos fortes e fracos é possível programar o grau de dificuldade das tarefas,
de modo tal que elas se situem ao alcance do aluno, com um pequeno esforço. As
técnicas de ensino programado ilustram o processo. O grau de dificuldade é
hierarquizado e a aprendizagem procede passo a passo. Os novos conteúdos são
introduzidos gradualmente. Os pressupostos para a compreensão dos novos
conteúdos foram recentmente exercitados no passo imediatamente anterior da
seqüência. Testes são realizados com freqüência, para verificar o progresso. As
respostas às questões de testes constam na própria pergunta. O sucesso na
realização dos testes com dificuldade progressiva permite que o aluno acompanhe
seu próprio progresso e desenvolva um auto-conceito de competência para
aprendizagem. A redução da frustração crônica associada ao fracasso promove a
motivação, reduz a ansiedade e extingue progressivamente os comportamentos
inadequados.
O QUE É O TRANSTORNO NÃO-VERBAL DE APRENDIZAGEM?
O transtorno
não-verbal de aprendizagem (TNVA) é uma forma de dificuldade crônica de
aprendizagem escolar de provável causa neurodesenvolvimental que apresenta a
discalculia do desenvolvimento como um dos seus sintomas principais. Os
transtornos de aprendizagem escolar podem ser classificados como verbais,
não-verbais ou mistos. Fala-se em transtorno específico de aprendizagem quando
uma criança apresenta dificuldades crônicas de aprendizagem, as quais não podem
ser atribuídas a déficit intelectual, inadequações pedagógicas ou transtornos
psiquiátricos. Com uma prevalência em torno de 5% a dislexia-disortografia
constitui o exemplo mais freqüente e típico de transtorno verbal de
aprendizagem. O TNVA compromete cerca de 1% das crianças em idade escolar e se
expressa sob a forma de 1) incoordenação motora, 2) déficits visoespaciais, 3)
discalculia, 4) déficits no pensamento inferencial, principalmente não-verbal e
cognição social.
Apesar de terem
inteligência na faixa da normalidade, as crianças com TNVA são freqüentemente
confundidas com casos de retardo mental. As dificuldades de aprendizagem são
persistentes. Estes indivíduos são pouco intuitivos e necessitam de uma espécie
de manual de instrução verbal para compreender o mundo e funcionar
adaptativamente. Os pontos fortes destas crianças são o vocabulário, a sintaxe,
mecânica da leitura e escrita e a memória auditivo-verbal. Muitos indivíduos
são verbosos. Do ponto de vista social estes indivíduos podem exibir
comportamentos inadequados, desajeitados, sendo socialmente rejeitados. As
dificuldades com a realização de inferências não-verbais faz com que estes
indivíduos tenham muita dificuldade para ler o ambiente, para decodificar os
sentimentos e emoções alheios. O comportamento pode se tornar então inadequado.
O indivíduo ri na hora errada. Ou então demonstra afetos negativos quando não
deveria. A tendência a uma interpretação literal dos enunciados dificuldade a
interação social e a compreensão da leitura. Na idade pré-escolar as crianças
com TNVA podem ser agitadas, mas gradualmente as dificuldades emocionais
associadas com ansiedade e baixa auto-estima adquirem predomínio no quadro
psiquiátrico associado.
O TNVA constitui o
fenótipo cognitivo de muitas síndromes adquiridas tais como a síndrome fetal
alcoólica, ou genéticas. Entre as principais síndromes genéticas que se
caracterizam por um perfil de tipo TNVA podem ser mencionadas a síndrome de
Turner, a síndrome velocardiofacial, a síndrome de Asperger, a síndrome de
Williams e outras. O reconhecimento do TNVA é importante por vários motivos. Em
primeiro lugar para não confundir estes indivíduos com deficientes. Em segundo
lugar para estabelecer expectativas realistas de desempenho. O vocabulário
adequado e a verbosidade podem fazer com que pais e educadores desenvolvem
expectativas irrealistas de desempenho, as quais, quando frustradas,
desorientam todas as partes interessadas. Mas, principalmente, o diagnóstico é
importante devido a suas implicações pedagógicas. Como os indivíduos com TNVA
são pouco intuitivos eles não aprendem bem espontaneamente, fazendo inferências
a partir da interação com situações-problema ou em situações sociais com
colegas. Os indivíduos com TNVA exigem formas mais dirigidas de ensino,
programadas, baseadas em técnicas de verbalização explícita e de memorização de
instruções.