Sunday, December 06, 2015

Política no FaceBook e motivos morais: The righteous mind

Como pode-se notar, sou viciado em FaceBook. Além de ser um time-killer e fonte de informações sensacional, o FaceBook pode ser usado para marketing profissional, ensino e manifestação política.

A temperatura política subiu demais no FaceBook nos últimos tempos, refletindo a divisão do País. Os ânimos estão acirrados.

Algumas pessoas reclamam das manifestações religiosas e políticas no FaceBook. Eu tenho me divertido com isso. Amigos de outras épocas me escrevem, dizendo-se desapontados com minha guinada conservadora. Outros, simplesmente me riscaram do caderninho.


Um autor que me ajudou a compreender muito as diferenças políticas, e a me orientar quanto às emoções suscitadas, foi o Jonathan Haidt (2012). Segundo o Haidt, as diferenças políticas se originam de motivações morais distintas. Ele segue Hume, para quem a razão é escrava das paixões. No seu modelo intuicionista da psicologia moral, primeiro as pessoas fazem um juízo moral automático, emocional e intuitivamente guiado, e depois procuram justifica-lo racionalmente.



Os motivos morais são universais psicológicos, recorrentes nas diversas culturas. São questões relativas ao certo e ao errado que precisam ser resolvidas de modo a propiciar a convivência social. Como todos universais, essas motivações têm uma origem instintiva, emocional, constituindo uma estratégia evolutivamente estável. Mas adquirem, epigeneticamente, um colorido peculiar em cada cultura.

As seis motivações morais básicas dizem respeito à justiça social (igualdade, ausência de malefício a outrem), eqüidade (fairness) liberdade, autoridade, lealdade e à sacralidade ou pureza.

Diferentes culturas acentuam esses motivos morais de forma distinta. Na Cultura Ocidental, individualista, desde o Iluminismo a justiça social é um motivo predominante, sendo todos os outros considerados apenas meras convenções sociais.

Os sistemas políticos também enfatizam de forma distinta os diversos motivos morais. O socialismo se preocupa muito com a justiça social, igualdade, não causar sofrimento ao outro etc. Mas o socialismo não se preocupa com a eqüidade (definida como um retorno justo em função da colaboração ou esforço) ou a autoridade e a sacralidade. Para os socialistas a liberdade, autoridade e sacralidade podem ser sacrificadas em favor da igualdade. A igualdade é a agenda suprema e pode ser implementada e ferro e fogo, doa a quem doer. Os socialistas estão se lixando para os direitos e o sofrimento das pessoas que pensam diferentemente deles.

Os libertários se preocupam exclusivamente com a liberdade. Mas o seu conceito de liberdade é distinto daquele dos socialistas. A liberdade dos libertários é negativa. Consiste apenas em garantir que o estado não tolha a liberdade de pensamento, expressão e ação, de modo que o indivíduo possa empreender. Os socialistas adotam um conceito positivo de liberdade, baseado na noção de direitos naturais da pessoa, tais como educação, saúde, moradia, lazer etc. A lista não pára de crescer. Os libertários também estão se lixando para a justiça social e para o sofrimento alheio.

A posição conservadora considera o leque mais amplo de motivos morais, procurando encontrar soluções para todas essas questões. Essa é uma das grandes mensagens do livro e corresponde à trajetória pessoal do Haidt, e de tantas outras pessoas, de posições esquerdistas na juventude para posições mais conservadoras na maturidade.

A etiqueta manda não conversar sobre religião e política à mesa. Justamente porque essas questões suscitam emoções fortes, que são divisivas. O trabalho do Haidt me ajudou a compreender melhor a origem psicológica dessas divisões. E pode, eventualmente, ajudar-nos a conviver melhor com elas.

Mas no FaceBook pode “conversar” sobre política. Só me resta torcer para que quando os bolivarianos tomarem definitivamente o poder eu não esteja entre os primeiros no paredón. Enquanto isso vou me divertindo com as divisões políticas e constatando quais amizades sobrevivem a elas.

Referência


Haidt, J. (2012). The righteous mind. Why good people are divided by politics and religion. New York: Pantheon.

Vídeo-aulas do Jonathan Haidt

Jonathan Haidt: The righteous mind. Why good people are divided by politics and religion

Jonathan Haidt: Lecture on Morality at Stanford

Jonathan Haidt: How human beings got morality, religion, civilization and humanity

Jonathan Haidt: The rationalist delusion in moral psychology

Jonathan Haidt: The moral psychology of political polarization: many causes and a few possible responses

Jonathan Haidt: Why people are so morally divided by economic questions

Jonathan Haidt: It's hard to gross out a libertarian

Jonathan Haidt: Libertarian psychology

Jonathan Haidt: The moral roots of liberals and conservatives