Como
pode-se notar, sou viciado em FaceBook. Além de ser um time-killer e fonte de
informações sensacional, o FaceBook pode ser usado para marketing profissional,
ensino e manifestação política.
A
temperatura política subiu demais no FaceBook nos últimos tempos, refletindo a
divisão do País. Os ânimos estão acirrados.
Algumas
pessoas reclamam das manifestações religiosas e políticas no FaceBook. Eu tenho
me divertido com isso. Amigos de outras épocas me escrevem, dizendo-se
desapontados com minha guinada conservadora. Outros, simplesmente me riscaram
do caderninho.
Um
autor que me ajudou a compreender muito as diferenças políticas, e a me
orientar quanto às emoções suscitadas, foi o Jonathan Haidt (2012). Segundo o
Haidt, as diferenças políticas se originam de motivações morais distintas. Ele
segue Hume, para quem a razão é escrava das paixões. No seu modelo
intuicionista da psicologia moral, primeiro as pessoas fazem um juízo moral
automático, emocional e intuitivamente guiado, e depois procuram justifica-lo
racionalmente.
Os
motivos morais são universais psicológicos, recorrentes nas diversas culturas.
São questões relativas ao certo e ao errado que precisam ser resolvidas de modo
a propiciar a convivência social. Como todos universais, essas motivações têm
uma origem instintiva, emocional, constituindo uma estratégia evolutivamente
estável. Mas adquirem, epigeneticamente, um colorido peculiar em cada cultura.
As
seis motivações morais básicas dizem respeito à justiça social (igualdade, ausência
de malefício a outrem), eqüidade (fairness) liberdade, autoridade, lealdade e à
sacralidade ou pureza.
Diferentes
culturas acentuam esses motivos morais de forma distinta. Na Cultura Ocidental,
individualista, desde o Iluminismo a justiça social é um motivo predominante,
sendo todos os outros considerados apenas meras convenções sociais.
Os
sistemas políticos também enfatizam de forma distinta os diversos motivos
morais. O socialismo se preocupa muito com a justiça social, igualdade, não
causar sofrimento ao outro etc. Mas o socialismo não se preocupa com a eqüidade
(definida como um retorno justo em função da colaboração ou esforço) ou a
autoridade e a sacralidade. Para os socialistas a liberdade, autoridade e
sacralidade podem ser sacrificadas em favor da igualdade. A igualdade é a
agenda suprema e pode ser implementada e ferro e fogo, doa a quem doer. Os
socialistas estão se lixando para os direitos e o sofrimento das pessoas que
pensam diferentemente deles.
Os
libertários se preocupam exclusivamente com a liberdade. Mas o seu conceito de
liberdade é distinto daquele dos socialistas. A liberdade dos libertários é
negativa. Consiste apenas em garantir que o estado não tolha a liberdade de
pensamento, expressão e ação, de modo que o indivíduo possa empreender. Os
socialistas adotam um conceito positivo de liberdade, baseado na noção de
direitos naturais da pessoa, tais como educação, saúde, moradia, lazer etc. A
lista não pára de crescer. Os libertários também estão se lixando para a
justiça social e para o sofrimento alheio.
A
posição conservadora considera o leque mais amplo de motivos morais, procurando
encontrar soluções para todas essas questões. Essa é uma das grandes mensagens
do livro e corresponde à trajetória pessoal do Haidt, e de tantas outras
pessoas, de posições esquerdistas na juventude para posições mais conservadoras
na maturidade.
A
etiqueta manda não conversar sobre religião e política à mesa. Justamente
porque essas questões suscitam emoções fortes, que são divisivas. O trabalho do
Haidt me ajudou a compreender melhor a origem psicológica dessas divisões. E
pode, eventualmente, ajudar-nos a conviver melhor com elas.
Mas
no FaceBook pode “conversar” sobre política. Só me resta torcer para que quando
os bolivarianos tomarem definitivamente o poder eu não esteja entre os
primeiros no paredón. Enquanto isso vou me divertindo com as divisões políticas
e constatando quais amizades sobrevivem a elas.
Referência
Haidt, J. (2012). The righteous mind. Why good people
are divided by politics and religion. New York: Pantheon.
Vídeo-aulas do Jonathan Haidt
Jonathan Haidt: The righteous mind. Why good people are divided by politics and religion
Jonathan Haidt: Lecture on Morality at Stanford
Jonathan Haidt: How human beings got morality, religion, civilization and humanity
Jonathan Haidt: The rationalist delusion in moral psychology
Jonathan Haidt: The moral psychology of political polarization: many causes and a few possible responses
Jonathan Haidt: Why people are so morally divided by economic questions
Jonathan Haidt: It's hard to gross out a libertarian
Jonathan Haidt: Libertarian psychology
Jonathan Haidt: The moral roots of liberals and conservatives