Os escores qualitativos são enganosos
Os resultados do exame neuropsicológico devem ser apresentados sob a forma quantitativa, isto é, como escores. Não se deve usar interpretações qualitativas do tipo "Abaixo da média" ou "Definitivamente abaixo da média" etc. Esses rótulos qualitativos apenas confundem. As pessoas leigas não entendem que a média da população em uma distribuição normal corresponde à mediana. É uso corrente nas escolas brasileiras a expressão "média" para se referir à nota de corte. Então, o leigo quando lê "Abaixo da média" pensa que o ménino tem deficiência intelectual. Isso apenas confunde. Uma pessoa pode ter a inteligência abaixo da média e mesmo assim ser normal. Alías, 50% das pessoas têm inteligência abaixo da média e apenas 2-3% têm deficiência intelectual. Então, por favor, sempre é melhor usar os escores e não as expressões qualitativas.Os escores brutos não bastam
É importante colocar no relatório neuropsicológico os escores brutos e a média e desvio-padrão da amostra normativa com a respectiva referência. Mas não basta usar os escores brutos. Um perfil comparativo das funções comprometidas e preservadas só pode ser apreendido quando os escores são colocados todos na mesma escala. Crawford (2012) recomenda que os resultados sejam todos expressos como escores z. A vantagem dos escores z é que eles correspondem ao coeficiente d de Cohen, uma das medidas mais populares de mangitude de efeito.
Os percentis são chatinhos mas importantes
Apesar de apresentarem algumas desvantagens, é importante que os resultados sejam expressos também como percentis (Crawford, 2012). As desvantagens dos percentis dizem respeito à falta de linearidade da escala. As distâncias entre os escores percentílicos não são idênticas. Não se trata, portanto, de uma escala intervalar. A distribuição dos percentis nunca é nomral, mas retangular. Mas os percentis são importantes por dois motivos: 1) A estimativa dos percentis é o modo mais fácil de avaliar a freqüência de ocorrência de um escore na população e, portanto, do seu grau de anormalidade; 2) Os percentis são facilmente compreensíveis pelos leigos. Basta die assim: "95% das crianças têm uma inteligência menor do que a do seu filho" etc.
A tabela abaixo ajuda a fazer as transformações entre as escalas mais freqüentemente utilizadas em neuropsicologia.
Os escores não conduzem diretamente ao diagnóstico
É importante considerar também que não existe qualquer relação direta entre escores, normas e diagnósticas. Os escores são quantitativos. O diagnóstico é categorial. A formulação do diagnósico depende de um complexo processo de interpretação, considerando modelos cognitivos, modelos de correlação anátomo-clinica e informações clinico-epidemiológicas.Take home messages
1. Evitar os escores qualitativos. Eles apenas confundem.2. Usar os escores brutos, comparando-os com a média e desvio-padrão da amostra normativa, sem esquecer da referência usada.
3. O perfil de funções comprometidas e preservadas só pode ser delineado quando todos os escores são expressos na mesma escala.
4. A escala z é a mais vantajosa porque fornece informação direta sobre a magnitude de efeito.
5. Os percentis são importantes para estimar a freqüência de ocorrência dos escores na população. A definição de normalidade ou anormalidade depende da freqüência de ocorrência.
6. Os percentis são o modo mais fácil de transmitir os resultados para os clientes (leigos).
7. Por si só, os escores não fornecem o diagnóstico. A formulação diagnóstica depende de uma interpretação em termos de um modelo cognitivo, de correlação anátomo-clinica, bem como de informações clinico-epidemiológicas.
Referência
Crawford, J. R. (2012). Quantitative aspects of neuropsychological assessment. In L. H. Goldstein & J. E. McNeil (Eds.), Clinical Neuropsychology: A Practical Guide to Assessment and Management for Clinicians, 2nd Edn (pp 129-155). Chichester: Wiley