O interesse pela pesquisa e da prática profissional na área de neuropsicologia é crescente. Uma novidade é o desenvolvimento e validação de instrumentos de exame neuropsicológico ou avaliação cognitiva disponibilizados para profissionais de saúde, independentemente da sua formação original (Capellini, Oliveira & Cuetos, 2010, DeLuccia & Ortiz, 2009, Fonseca et al., 2009, Mansur et al., 2004, Radanovic et al., 2004). Estas iniciativas têm sido contestadas por órgãos de classe da psicologia, principalmente pelo Conselho Federal de Psicologia. O argumento alegado é que tais instrumentos constituiriam, na verdade, testes psicológicos, cuja aplicação, conforme a legislação vigente é reservada a profissionais com graduação em psicologia. O presente texto objetiva revisar a questão a partir de uma perspectiva multi- e interdisciplinar, procurando contra-argumentar no sentido de que 1) os instrumentos usados na avaliação cognitiva não podem ser formalmente caracterizados como testes psicológicos, 2) a política de considerar todo e qualquer instrumento de avaliação cognitiva como teste psicológico é nociva ao desenvolvimento da neuropsicologia no Brasil, e portanto aos seus potenciais beneficiários: pacientes, familiares, bem como profissionais de saúde e de educação, 3) a política restritiva anteriormente mencionada também é lesiva aos interesses profissionais dos psicólogos.
Contexto histórico
O nome neuropsicologia remonta a Lashley e Hebb (Beach et al., 1960), mas a área do conhecimento é bem mais antiga e interdisciplinar (Benton, 2000, Caplan, 1987). A neuropsicologia tal como a conhecemos hoje surgiu na segunda metade do Século XIX nos países do Hemisfério Norte.. A característica distintiva da neuropsicologia, o método anátomo-clinico, bem como os principais procedimentos de avaliação foram desenvolvidos por pioneiros tais como Broca, Wernicke, Lichtheim, Dejerine, Goldstein etc., os quais eram médicos, neurologistas, psiquiatras, oftalmologistas, cirurgiões etc.
A participação de psicólogos na neuropsicologia é mais tardia, nem por isso menos importante. Walter Poppelreuter tinha formação dupla em medicina e psicologia, tendo sido um dos pioneiros na introdução de técnicas psicométricas na avaliação neuropsicológica, ainda durante a I Guerra Mundial (Preilowski, 2000). Mas, foi somente a partir da Década de 1930 que intensificou-se a participação de psicólogos e o uso de técnicas psicométricas (Ombredane, 1929, McBride & Weisenburg, 1935). É preciso salientar, entretanto, que Katherine McBride era psicóloga, mas Theodore Weisenburg era médico.
Além de outros pioneiros, tais como Luria (Tranel, 2005), que tinham formação dupla em medicina e psicologia, o ímpeto para o desenvolvimento da neuropsicologia no Século XX veio do trabalho colaborativo entre médicos e psicólogos, tais como Kurt Goldstein e Adhemar Gelb, Norman Geschwind e Edith Kaplan, Klaus Poeck e Walter Huber, Morris Bender e Hans-Lukas Teuber etc. (Preilowski, 2000). No contexto brasileiro é preciso mencionar o casal Lefèvre, Antônio e Beatriz (Lefèvre & Lefèvre, 1983). De natureza interdisciplinar foi também o International Neuropsychological Symposium (Boller, 1999), uma série de eventos que se aconteceu entre as décadas de 1960 e 1980 e sob a liderança de Henri Hecaen, Ennio de Renzi, Klaus Poeck, Norman Geschwind, Elizabeth Warrington e outros profissionais de diversas áreas para fomentar o desenvolvimento da neuropsicologia. É possível afirmar, sem exageros, que a neuropsicologia tal como a conhecemos hoje estabeleceu-se cientificamente na segunda metade do Século XX em grande parte devido a esforços interdisciplinares tais como o International Neuropsychological Symposium.
O nome neuropsicologia remonta a Lashley e Hebb (Beach et al., 1960), mas a área do conhecimento é bem mais antiga e interdisciplinar (Benton, 2000, Caplan, 1987). A neuropsicologia tal como a conhecemos hoje surgiu na segunda metade do Século XIX nos países do Hemisfério Norte.. A característica distintiva da neuropsicologia, o método anátomo-clinico, bem como os principais procedimentos de avaliação foram desenvolvidos por pioneiros tais como Broca, Wernicke, Lichtheim, Dejerine, Goldstein etc., os quais eram médicos, neurologistas, psiquiatras, oftalmologistas, cirurgiões etc.
A participação de psicólogos na neuropsicologia é mais tardia, nem por isso menos importante. Walter Poppelreuter tinha formação dupla em medicina e psicologia, tendo sido um dos pioneiros na introdução de técnicas psicométricas na avaliação neuropsicológica, ainda durante a I Guerra Mundial (Preilowski, 2000). Mas, foi somente a partir da Década de 1930 que intensificou-se a participação de psicólogos e o uso de técnicas psicométricas (Ombredane, 1929, McBride & Weisenburg, 1935). É preciso salientar, entretanto, que Katherine McBride era psicóloga, mas Theodore Weisenburg era médico.
Além de outros pioneiros, tais como Luria (Tranel, 2005), que tinham formação dupla em medicina e psicologia, o ímpeto para o desenvolvimento da neuropsicologia no Século XX veio do trabalho colaborativo entre médicos e psicólogos, tais como Kurt Goldstein e Adhemar Gelb, Norman Geschwind e Edith Kaplan, Klaus Poeck e Walter Huber, Morris Bender e Hans-Lukas Teuber etc. (Preilowski, 2000). No contexto brasileiro é preciso mencionar o casal Lefèvre, Antônio e Beatriz (Lefèvre & Lefèvre, 1983). De natureza interdisciplinar foi também o International Neuropsychological Symposium (Boller, 1999), uma série de eventos que se aconteceu entre as décadas de 1960 e 1980 e sob a liderança de Henri Hecaen, Ennio de Renzi, Klaus Poeck, Norman Geschwind, Elizabeth Warrington e outros profissionais de diversas áreas para fomentar o desenvolvimento da neuropsicologia. É possível afirmar, sem exageros, que a neuropsicologia tal como a conhecemos hoje estabeleceu-se cientificamente na segunda metade do Século XX em grande parte devido a esforços interdisciplinares tais como o International Neuropsychological Symposium.
Demonstrando que profissionais e pesquisadores de fora da psicologia desempenharam e continuam desempenhando papéis importantes na neuropsicologia é preciso considerar que a maior parte dos principais manuais e tratados de impacto contemporâneo é de cunho interdisciplinar (Denes & Pizzamiglio, 1999, Feinberg & Farah, 1997, Hartje & Poeck, 1997, Hecaen & Albert, 1978, Heilman & Valenstein, 2003, Karnath & Thier, 2006, Mesulam, 2000, Peña-Casanova & Barraquer-Bordas, 1983 etc.). Ainda do ponto de vista bibliográfico, os dois periódicos mais antigos e conceituados na área, Neuropsychologia e Cortex, foram fundados e editados por dois médicos, respectivamente: Henri Hecaen e Ennio de Renzi (Boller, 1999). Por outro lado, do ponto de vista acadêmico, François Lhermite, o primeiro catedrático de neuropsicologia na França também era médico (Derouesné & Boller, 2007).
Instrumentos diagnósticos em neuropsicologia
Até a Década de 1930 os instrumentos diagnósticos utilizados em neuropsicologia foram todos desenvolvidos por médicos. Carl Wernicke, p. ex., estabeleceu as bases do exame afasiológico utilizando-se de tarefas tais como nomeação de objetos, repetição de palavras e pseudopalavras, compreensão de sentenças, etc (Gage & Hickok, 2005). As técnicas de exame utilizadas pelos pioneiros eram eminententemente clinicas, sendo desenvolvidas ad hoc conforme as hipóteses formuladas para cada caso. À medida que o conhecimento foi avançando e, com a participação de psicólogos, foram sendo padronizados os instrumentos de avaliação com o emprego de técnicas psicométricas progressivamente sofisticadas. Instrumentos de exame afasiológicos amplamente utilizados atualmente tais como a Boston Diagnostic Aphasia Examination (Goodglass & Kaplan, 1984) ou o Aachener Aphasie Test (Huber, Poeck, Weniger & Willmes, 1983) resultaram do resgate feito por Norman Geschwind do sistema originalmente proposto por Wernicke. Foi sob a supervisão de Geschwind que Harold Goodglass, um lingüista, e Edith Kaplan, uma psicóloga, desenvolveram a Boston Diagnostic Aphasia Examination, a qual é internacionalmente usada por profissionais com diferentes formações. Da mesma forma, numa geração prévia, o trabalho psicométrico de McBride e Weisenburg foi realizado sob inspiração dos conceitos desenvolvidos pelo neurologista Nielsen (Caplan, 1987). Merecem destaque ainda os procedimentos diagnósticos desenvolvidos por Lissauer para as gnosias visuais (Geschwind, 1965), Dejerine para a leitura (Bub, Arguin & Lecours, 1993), Liepmann para apraxias (Goldenberg, 2003), Gerstmann (1940) para gnosias digitais e orientação direita-esquerda, Head para esquema corporal (Head & Holmes, 1911/1912), Henschen para acalculias (Boller & Grafman, 1983) etc.
Até a Década de 1930 os instrumentos diagnósticos utilizados em neuropsicologia foram todos desenvolvidos por médicos. Carl Wernicke, p. ex., estabeleceu as bases do exame afasiológico utilizando-se de tarefas tais como nomeação de objetos, repetição de palavras e pseudopalavras, compreensão de sentenças, etc (Gage & Hickok, 2005). As técnicas de exame utilizadas pelos pioneiros eram eminententemente clinicas, sendo desenvolvidas ad hoc conforme as hipóteses formuladas para cada caso. À medida que o conhecimento foi avançando e, com a participação de psicólogos, foram sendo padronizados os instrumentos de avaliação com o emprego de técnicas psicométricas progressivamente sofisticadas. Instrumentos de exame afasiológicos amplamente utilizados atualmente tais como a Boston Diagnostic Aphasia Examination (Goodglass & Kaplan, 1984) ou o Aachener Aphasie Test (Huber, Poeck, Weniger & Willmes, 1983) resultaram do resgate feito por Norman Geschwind do sistema originalmente proposto por Wernicke. Foi sob a supervisão de Geschwind que Harold Goodglass, um lingüista, e Edith Kaplan, uma psicóloga, desenvolveram a Boston Diagnostic Aphasia Examination, a qual é internacionalmente usada por profissionais com diferentes formações. Da mesma forma, numa geração prévia, o trabalho psicométrico de McBride e Weisenburg foi realizado sob inspiração dos conceitos desenvolvidos pelo neurologista Nielsen (Caplan, 1987). Merecem destaque ainda os procedimentos diagnósticos desenvolvidos por Lissauer para as gnosias visuais (Geschwind, 1965), Dejerine para a leitura (Bub, Arguin & Lecours, 1993), Liepmann para apraxias (Goldenberg, 2003), Gerstmann (1940) para gnosias digitais e orientação direita-esquerda, Head para esquema corporal (Head & Holmes, 1911/1912), Henschen para acalculias (Boller & Grafman, 1983) etc.
Todo esse corpo acumulado de conhecimentos é patrimônio da neuropsicologia como área interdisciplinar de pesquisa e atuação profissional e não reserva de mercado de uma classe profissional. Mas os pesquisadores médicos contribuíram também com instrumentos psicometricamente validados, tais como o Token Test (de Renzi & Vignolo, 1962), a Mini-mental State Examination (Folstein, Folstein & McHugh, 1975) e a Frontal Asessment Battery (Dubois, Schlachevsky, Latvin & Pillon, 2000). Não pode deixar de ser mencionada a longa tradição de exame do estado mental em psiquiatria e neurologia, a qual foi formalizada do ponto de vista neuropsicológica em obras como aquelas escritas por Strub e Black (1993) e Hodges (1994). O exame do estado mental em medicina é tradicionalmente sistematizado sob o acrônimo ASMOCPLIMAC (atenção, sensopercepção, memória, orientação, consciência, pensamento, linguagem, inteligência, motricidade, afeto e conduta) e os seus conteúdos não constituem reserva de mercado de nenhuma categoria profissional.
Obviamente, o trabalho dos psicólogos não se resumiu a aproveitar conhecimentos sobre correlações anátomo-clinicas angariados por médicos, sistematizando seu uso sob a forma de instrumentos psicológicos validados e normatizados. Diversos testes empregados na neuropsicologia foram desenvolvidos originalmente como testes psicológicos, como p. ex., as baterias Wechsler de inteligência (Strauss, Sherman & Spreen, 2006). Houve também instrumentos desenvolvidos por psicólogos a partir de uma concepção puramente psicométrica da neuropsicologia, como p. ex., a bateria de Halstead-Reitan (Reitan & Wolfson, 2009). Tais instrumentos, os quais foram originalmente comercializados como testes psicológicos, constituem, indiscutivelmente, reserva de mercado para os profissionais da psicologia. Mas o conceito de teste psicológico não se aplica a instrumentos desenvolvidos a partir de uma tradição muito mais antiga e interdisciplinar de clinica e pesquisa, mesmo quando técnicas psicométricas foram empregadas na sua validação e normatização. A necessidade de utilização de técnicas psicométricas – ou clinimétricas, caso utilizar o prefixo “psico-“ venha a ser proibido – para validar instrumentos de diagnóstico e sua ampla difusão na área de saúde apenas atestam o sucesso e o reconhecimento obtidos pela estatística aplicada à psicologia como disciplina científica. Não basta que um instrumento avalie os domínios do ASMOCPLIMAC ou que seja validado e normatizado para considerá-lo formalmente como teste psicológico. É preciso considerar também a sua originalidade e finalidades, bem como a formação dos profissionais que o desenvolveram.
Os fatos históricos e argumentos apresentados acima constituem argumentos para o estabelecimento de uma categoria de instrumentos neuropsicológicos validados e normatizados, os quais não se constituem em testes psicológicos. Tais instrumentos foram, são e serão desenvolvidos a partir das necessidades diagnósticas percebidas pelos diversos profissionais atuando na área interdisciplinar de neuropsicologia. A utilização de técnicas estatísticas de validação e normatização decorre da filosofia de assistência a saúde baseada em evidências, a qual é prevalente em nossa época. Talvez se devesse evitar o termo neuropsicologia e fosse preferível referir-se ao campo como neurologia comportamental ou neurologia cognitiva. Poder-se-ia também evitar o uso da palavra psicometria e utilizar o termo clinimetria. Ao invés de falar em exame neuropsicológicos deveríamos então usar outros termos, tais como avaliação cognitiva ou exame do estado ou funções mentais etc. Com isto evitar-se-ia o uso do sufixo “-psicologia”. Mas, tudo isto representaria apenas um empobrecimento histórico, além de não fazer justiça à contribuição dos psicólogos para a área.
Os fatos históricos e argumentos apresentados acima constituem argumentos para o estabelecimento de uma categoria de instrumentos neuropsicológicos validados e normatizados, os quais não se constituem em testes psicológicos. Tais instrumentos foram, são e serão desenvolvidos a partir das necessidades diagnósticas percebidas pelos diversos profissionais atuando na área interdisciplinar de neuropsicologia. A utilização de técnicas estatísticas de validação e normatização decorre da filosofia de assistência a saúde baseada em evidências, a qual é prevalente em nossa época. Talvez se devesse evitar o termo neuropsicologia e fosse preferível referir-se ao campo como neurologia comportamental ou neurologia cognitiva. Poder-se-ia também evitar o uso da palavra psicometria e utilizar o termo clinimetria. Ao invés de falar em exame neuropsicológicos deveríamos então usar outros termos, tais como avaliação cognitiva ou exame do estado ou funções mentais etc. Com isto evitar-se-ia o uso do sufixo “-psicologia”. Mas, tudo isto representaria apenas um empobrecimento histórico, além de não fazer justiça à contribuição dos psicólogos para a área.
Atuação profissional
Muito mais do que uma questão semântico-lexical, o ponto em discussão reflete o sucesso da psicologia como área de pesquisa e atuação profissional. O avanço dos conhecimentos e o reconhecimento da eficácia dos métodos desenvolvidos pelos psicometristas de validação de instrumentos diagnósticos fez com que os mesmos se estabelecessem em todas as profissionais da saúde que constituem a área multiprofissional da neuropsicologia. Fonoaudiólogas necessitam avaliar aspectos da percepção, habilidades visoconstrutivas e várias formas de memória e de funções executivas no atendimento de pacientes portadores de afasia e outros transtornos neuropsicológicos. Da mesma forma, terapeutas ocupacionais necessitam empregar instrumentos de diagnóstico e medidas neuropsicológicos de desfecho para planejar e avaliar a eficácia das mais variadas formas de intervenções cognitivas para pacientes com demências, traumatismo crânio-encefálico, acidente vascular-cerebral etc. Médicos necessitam de informações sobre o funcionamento cognitivo dos seus pacientes para esclarecer questões diagnósticas ou planejar as terapais melhor indicadas para seus pacientes etc.
Muito freqüentemente os profissionais de diversas áreas encaminham pacientes para avaliações neuropsicológicas realizadas por psicólogos. Mas diversas razões tornam inviável uma exigência eventual de que todo e qualquer cliente atendido por médicos, terapeutas ocupacionais e fonoaudiólogos seja submetido a uma avaliação psicológica para que as decisões diagnósticas e terapêuticas sejam tomadas pelos profissionais mencionados. A inviabilidade decorre, em primeiro lugar, de questões logísticas. Não é praticamente exeqüível, sendo até mesmo desumano, obrigar todos os pacientes que precisam de uma avaliação das funções mentais a procurarem profissionais de psicologia. O atendimento multiprofissional, adicionalmente, encarece os custos do atendimento, sobrecarregando o orçamento familiar ou do serviço de saúde. O atendimento multiprofissional deve ser reservado aos casos mais complexos. Em terceiro lugar, não haveria profissionais de psicologia com a perícia necessária em número suficiente para atender a essa demanda que fosse, eventual e artificialmente, criada. Finalmente, uma tal política seria deletéria aos próprios interesses da psicologia como profissão. A realização de avaliações cognitivas por outros profissionais não diminui a demanda por serviços psicológicos. Ao contrário, o reconhecimento dos comprometimentos cognitivos e comportamentais apresentados por pacientes neuropsiquiátricos como uma dimensão importante do diagnóstico e atendimento destes casos somente contribui para aumentar e não para diminuir a demanda por serviços psicológicos especializados, tanto na área de diagnóstico quanto de psicoterapia. Na medida em que os diversos profissionais de saúde se tornam mais conscientes da dimensão neuropsicológica de comprometimento dos seus clientes, apenas aumenta a demanda por serviços psicológicos.
Formação profissional
O emprego de estratégias neuropsicológicas de diagnóstico requer uma formação interdisciplinar, a qual não é adquirida no estudo isolado de nenhuma das profissões que compõem a área interdisciplinar da neuropsicologia. A análise mais elementar das habilidades requeridas para realizar um diagnóstico neuropsicológico revela que o mesmo requer uma formação interdisciplinar. O diagnóstico neuropsicológico pode ser concebido como um procedimento de testagem de hipóteses. A partir da história clinica, realizada com o cliente e com familiares, e de observações iniciais, são formuladas hipóteses quanto ao diagnóstico, as quais serão testadas a seguir. As hipóteses podem ser formuladas em termos de síndromes e de um diagnóstico de localização anatômica ou em termos de sintomas e de um diagnóstico virtual em um modelo de processamento de informação. Formuladas as hipóteses, a falsidade das mesmas é testada através de mais dados de anamnese, de observações clinicas adicionais ou de instrumentos padronizados para o teste de hipóteses, os quais podem ser testes psicológicos ou outros instrumentos. A geração das hipóteses depende de uma interpretação dos dados de anamnese e observação inicial em termos de conhecimentos da epidemiologia clinica das doenças neurológicas e psiquiátricas, bem como a partir de modelos de correlação anátomo-clinica ou de processamento de informação. É apenas a partir da formulação de hipóteses que as mesmas podem ser formalmente testadas através de instrumentos quantitativos, validados ou normatizados, quer se trate de testes psicológicos ou não.
Muito freqüentemente os profissionais de diversas áreas encaminham pacientes para avaliações neuropsicológicas realizadas por psicólogos. Mas diversas razões tornam inviável uma exigência eventual de que todo e qualquer cliente atendido por médicos, terapeutas ocupacionais e fonoaudiólogos seja submetido a uma avaliação psicológica para que as decisões diagnósticas e terapêuticas sejam tomadas pelos profissionais mencionados. A inviabilidade decorre, em primeiro lugar, de questões logísticas. Não é praticamente exeqüível, sendo até mesmo desumano, obrigar todos os pacientes que precisam de uma avaliação das funções mentais a procurarem profissionais de psicologia. O atendimento multiprofissional, adicionalmente, encarece os custos do atendimento, sobrecarregando o orçamento familiar ou do serviço de saúde. O atendimento multiprofissional deve ser reservado aos casos mais complexos. Em terceiro lugar, não haveria profissionais de psicologia com a perícia necessária em número suficiente para atender a essa demanda que fosse, eventual e artificialmente, criada. Finalmente, uma tal política seria deletéria aos próprios interesses da psicologia como profissão. A realização de avaliações cognitivas por outros profissionais não diminui a demanda por serviços psicológicos. Ao contrário, o reconhecimento dos comprometimentos cognitivos e comportamentais apresentados por pacientes neuropsiquiátricos como uma dimensão importante do diagnóstico e atendimento destes casos somente contribui para aumentar e não para diminuir a demanda por serviços psicológicos especializados, tanto na área de diagnóstico quanto de psicoterapia. Na medida em que os diversos profissionais de saúde se tornam mais conscientes da dimensão neuropsicológica de comprometimento dos seus clientes, apenas aumenta a demanda por serviços psicológicos.
Formação profissional
O emprego de estratégias neuropsicológicas de diagnóstico requer uma formação interdisciplinar, a qual não é adquirida no estudo isolado de nenhuma das profissões que compõem a área interdisciplinar da neuropsicologia. A análise mais elementar das habilidades requeridas para realizar um diagnóstico neuropsicológico revela que o mesmo requer uma formação interdisciplinar. O diagnóstico neuropsicológico pode ser concebido como um procedimento de testagem de hipóteses. A partir da história clinica, realizada com o cliente e com familiares, e de observações iniciais, são formuladas hipóteses quanto ao diagnóstico, as quais serão testadas a seguir. As hipóteses podem ser formuladas em termos de síndromes e de um diagnóstico de localização anatômica ou em termos de sintomas e de um diagnóstico virtual em um modelo de processamento de informação. Formuladas as hipóteses, a falsidade das mesmas é testada através de mais dados de anamnese, de observações clinicas adicionais ou de instrumentos padronizados para o teste de hipóteses, os quais podem ser testes psicológicos ou outros instrumentos. A geração das hipóteses depende de uma interpretação dos dados de anamnese e observação inicial em termos de conhecimentos da epidemiologia clinica das doenças neurológicas e psiquiátricas, bem como a partir de modelos de correlação anátomo-clinica ou de processamento de informação. É apenas a partir da formulação de hipóteses que as mesmas podem ser formalmente testadas através de instrumentos quantitativos, validados ou normatizados, quer se trate de testes psicológicos ou não.
É possível concluir então que o diagnóstico neuropsicológico é um processo de teste de hipóteses que se fundamenta em um tripé de conhecimentos sobre epidemiologia clinica, correlação estrutura-função e psicometria. As três formas de conhecimento são importantes e nenhuma delas se basta isoladamente. Um dos objetivos da avaliação neuropsicológica é justamente tornar as observações clinicas mais precisas, comparando-as com um referencial normativo. Por outro lado, uma estratégia puramente psicométrica ao diagnóstico neuropsicológico está fadada ao fracasso. Assim como os outros profissionais precisam basear os diagnósticos em informações psicometricamente validas, os psicólogos necessitam igualmente de dados epidemiológicos e evidências sobre correlação estrutura-função para interpretar os escores. Um erro freqüentemente observado no diagnóstico neuropsicológico é a aplicação mecânica de testes, seguida do levantamento de escores e comparação com referenciais normativos sem levar em consideração os construtos ou hipóteses que estão sendo testados, os quais têm a ver com o contexto clinico-epidemiológico e as correlações anátomo-clinicas que originaram a necessidade de avaliação. È muito maior o número de absurdos diagnósticos cometidos por falta de conhecimento clinico-epidemiológico e anátomo-clinico do que por carência de formação na área de psicometria.
Somente se habilita a realizar um diagnóstico neuropsicológico o profissional que, após longos anos de estudo interdisciplinar e prática profissional, se capacitar nos três domínios da epidemiologia clinica das doenças neuropsiquiátricas, modelos de correlação estrutura-função e psicometria. Tais conhecimentos não são adquiridos no curso de graduação em psicologia, ou em nenhum outro. Nem tampouco em um curso de especialização com duração de um ou dois anos, realizado à noite ou nos fins de semana. A neuropsicologia é uma área interdisciplinar, que congrega várias profissões e cujo exercício profissional é regulamentado por cada uma das profissões específicas que a compõem.
A discussão sobre uma eventual necessidade de regulamentar o exercício interdisciplinar em neuropsicologia foge ao escopo do presente texto. Poder-se-ia argumentar, p. ex., que a complexidade das questões envolvidas exigiria uma formação interdisciplinar em nível de doutorado. Mas isto inviabilizaria o exercício da neuropsicologia no Brasil e seria nocivo aos interesses da coletividade. Por enquanto o que se pode fazer de modo mais sensato é recomendar que os profissionais interessados obedeçam aos preceitos éticos e técnico-científicos da sua profissão, procurem uma formação interdisciplinar e cultivem hábitos de auto-educação continuada. A área é nova e muito mais trabalho e experiência serão necessários para definir o seu perfil e regulamentar seu exercício.
Conclusão
Os fatos e argumentos apresentados concorrem, portanto, para fortalecer a convicção de que psicólogos e outros profissionais de saúde e educação devem trabalhar de forma colaborativa e complementar na área interdisciplinar de neuropsicologia. A colaboração multiprofissional em neuropsicologia está originando um campo interdisciplinar de conhecimento. Uma das ferramentas principais de pesquisa e trabalho clinico neste campo interdisciplinar de conhecimento diz respeito a instrumentos diagnósticos validados e normatizados com as melhores técnicas estatísticas existentes, e disponibilizado para uso dos profissionais de saúde em geral, que tenham interesse e habilitação para atuar na área. É urgente no contexto brasileiro atual que profissionais de psicologia colaborem com outros especialistas no intuito de desenvolver, validar e normatizar instrumentos de avaliação cognitiva. Esta demanda se origina do sucesso que a neuropsicologia está tendo na nossa sociedade, fazendo com que seus serviços sejam crescentemente requisitados. Restringir aos psicólogos a avaliação das funções mentais no contexto da neuropsicologia não atende às necessidades da sociedade, dos demais profissionais e, muito menos, dos psicólogos. A neuropsicologia dispõe de uma riqúissima herança interdisciplinar de trabalho cooperativo e influência mútua e fecunda. A História mostra que o progresso científico se deve sempre às pesquisas realizadas nas fronteiras entre os campos disciplinares tradicionais (Gruber & Bödeker, 2005, Gruber & Wallace, 2001). Áreas de pesquisa ou atuação profissional que se fecharam à interdisciplinaridade foram condenadas à extinção. Uma disciplina ou área profissional ensimesmada transforma-se em uma seita de iluminados, falando uma linguagem incompreensível para os não-iniciados. E não é este o destino que se almeja para a neuro- ou para a –psicologia.
Referências
Beach, F. A., Hebb, D. O., Morgan, C. T., Nissen, R. W. (Eds.) (1960). The neuropsychology of Lashley: selected papers. New York: McGraw-Hill.
Somente se habilita a realizar um diagnóstico neuropsicológico o profissional que, após longos anos de estudo interdisciplinar e prática profissional, se capacitar nos três domínios da epidemiologia clinica das doenças neuropsiquiátricas, modelos de correlação estrutura-função e psicometria. Tais conhecimentos não são adquiridos no curso de graduação em psicologia, ou em nenhum outro. Nem tampouco em um curso de especialização com duração de um ou dois anos, realizado à noite ou nos fins de semana. A neuropsicologia é uma área interdisciplinar, que congrega várias profissões e cujo exercício profissional é regulamentado por cada uma das profissões específicas que a compõem.
A discussão sobre uma eventual necessidade de regulamentar o exercício interdisciplinar em neuropsicologia foge ao escopo do presente texto. Poder-se-ia argumentar, p. ex., que a complexidade das questões envolvidas exigiria uma formação interdisciplinar em nível de doutorado. Mas isto inviabilizaria o exercício da neuropsicologia no Brasil e seria nocivo aos interesses da coletividade. Por enquanto o que se pode fazer de modo mais sensato é recomendar que os profissionais interessados obedeçam aos preceitos éticos e técnico-científicos da sua profissão, procurem uma formação interdisciplinar e cultivem hábitos de auto-educação continuada. A área é nova e muito mais trabalho e experiência serão necessários para definir o seu perfil e regulamentar seu exercício.
Conclusão
Os fatos e argumentos apresentados concorrem, portanto, para fortalecer a convicção de que psicólogos e outros profissionais de saúde e educação devem trabalhar de forma colaborativa e complementar na área interdisciplinar de neuropsicologia. A colaboração multiprofissional em neuropsicologia está originando um campo interdisciplinar de conhecimento. Uma das ferramentas principais de pesquisa e trabalho clinico neste campo interdisciplinar de conhecimento diz respeito a instrumentos diagnósticos validados e normatizados com as melhores técnicas estatísticas existentes, e disponibilizado para uso dos profissionais de saúde em geral, que tenham interesse e habilitação para atuar na área. É urgente no contexto brasileiro atual que profissionais de psicologia colaborem com outros especialistas no intuito de desenvolver, validar e normatizar instrumentos de avaliação cognitiva. Esta demanda se origina do sucesso que a neuropsicologia está tendo na nossa sociedade, fazendo com que seus serviços sejam crescentemente requisitados. Restringir aos psicólogos a avaliação das funções mentais no contexto da neuropsicologia não atende às necessidades da sociedade, dos demais profissionais e, muito menos, dos psicólogos. A neuropsicologia dispõe de uma riqúissima herança interdisciplinar de trabalho cooperativo e influência mútua e fecunda. A História mostra que o progresso científico se deve sempre às pesquisas realizadas nas fronteiras entre os campos disciplinares tradicionais (Gruber & Bödeker, 2005, Gruber & Wallace, 2001). Áreas de pesquisa ou atuação profissional que se fecharam à interdisciplinaridade foram condenadas à extinção. Uma disciplina ou área profissional ensimesmada transforma-se em uma seita de iluminados, falando uma linguagem incompreensível para os não-iniciados. E não é este o destino que se almeja para a neuro- ou para a –psicologia.
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