A neuropsicologia pode contribuir ao menos de três maneiras, todas elas indiretas:
Diagnóstico: Quando o neuropsicólogo investiga um aluno com dificuldades de comportamento ou de aprendizagem escolar, o objetivo é identificar e formar um juízo sobre os fatores de risco que possam estar contribuindo para as dificuldades. Esses fatores de risco podem ser inerentes à criança (déficits cognitivos, dificuldades de temperamento, doenças etc.) ou ao ambiente (pobreza, família, escola etc.). Em uma investigação neuropsicológica não é possível identificar causas, mas é possível identificar fatores de risco, construindo um juízo (qualitativo) sobre sua importância relativa e prognóstico, além de identificar possibilidades de intervenção;
Intervenção: A experiência com reabilitação neuropsicológica indica que as intervenções devem ser desenhadas como uma psicoterapia, uma neuropsicoterapia. Os modelos da terapia cognitivo-comportamental são muito eficientes. Muitas vezes não é possível uma restituição ou habilitação funcional ad integrum. Mas diversas estratégias cognitivas e comportamentais estão disponíveis para melhorar substancialmente o comportamento, o desempenho escolar e a qualidade de vida;
Evidências para aprimorar as intervenções pedagógicas: Um aluno só é encaminhado para um neuropsicológo quando alguma coisa com seu comportamento ou rendimento escolar não está indo bem. Como mencionei acima, os fatores de risco podem ser inerentes à criança ou ao ambiente. A observação do comportamento e desempenho da criança e as entrevistas com pais e professores são oportunidades para avaliar, entre outras coisas, se as estratégias pedagógicas empregadas até o momento são adequadas ou não.
Muitas vezes não são. Muitas vezes as professores não sabem bem o que fazer para ajudar as crianças. Há sempre uma tendência de fazer atribuições causais sócio-políticas e uma escassez de conhecimento sobre intervenções com as pessoas. O professor que se dispõe a trabalhar com crianças vivendo na pobreza e famílias complicadas precisa se habilitar a trabalhar efetivamente com a criança. Não ajuda muito ficar se estressando, se queixando as condições sócio-políticas adversas ou esperando que o estado resolva os problemas. A psicologia oferece estratégias eficientes de intervenção.
Acho que essa situação reflete a formação acadêmica dos professores. Há muito a psicologia foi preteridaem favor da sociologia como disciplina de base para a educação. A formação psicológica dos educadores se resume a Henri Wallon, Lev Vygotsky, Jean Piaget e Paulo Freire.
Todos esses são autores importantes, principalmente do ponto de vista histórico. Mas a psicologia cognitiva e comportamental progrediu muito nos últimos cinqüenta anos. E a maioria dos pressupostos assumidos por esses autores clássicos se mostrou, simplesmente, falsa.
Os professores têm consciência das falhas na sua formação psicológica. Esse é um dos motivos do interesse crescente pela neurociência educacional. Só que a neurociência educacional ainda é uma promessa. Enquanto isso, a psicologia cognitiva e comportamental está ao alcance dos pedagogos, oferencedo um repertório de estratégias para melhorar o desempenho cognitivo, comportamento e motivação.
Abaixo listo alguns blogs que fornecem informações valiosas sobre a importância da psicologia cognitiva e comportamental para a educação. Vale a pena conferir.
Revista de política educacional publicada pela Hoover Institution, um think tank conservador de Stanford.
Professor de psicologia na University of Virginia, autor de "Por que os alunos não gostam da escola?", colunista da revista American Educator.
Aluno de doutorado de John Sweller na University of New South Wales, autor de "The truth about teaching".
Professor de inglês na Inglaterra, autor de "What if everything you knew about education was wrong?"
Old Andrew, como gosta de ser chamado, também é professor de inglês na Inglaterra.
A leitura desses blogs é muito instrutiva. A educação é uma área muito conflagrada ideologicamente. Esses autores mostram que existem alternativas ao determinismo social hegemônico e que é possível informar as práticas educacionais com evidências.
Certamente, algum dia, as neurociências farão contribuições importantes à educação. As possibilidades oferecidas pela psicologia já estão ao alcance da mão. É importante divulgá-las, estudá-las e incorporá-las à prática.