Está saíndo do forno mais um livro editado pela equipe do
Laboratório de Neuropsicologia do Desenvolvimento da UFMG (LND-UFMG).
O Compêndio de testes neuropsicológicos apresenta as bases
conceituais e metodológicas de um conjunto de tarefas neuropsicológicas
avaliando atenção, memória e funções executivas, que pode ser aplicado da idade escolar
à terceira idade.
O livro tem um caráter do tipo “do it by yourself”. Ou seja,
a maioria dos testes discutidos é de domínio público e os estímulos são de
muito fácil confecção caseira. Esse livro reflete, de certa forma, a minha
experiência há mais de vinte anos, voltando do doutorado para o Brasil e
precisando montar uma bateria de testes que fosse versátil e grátis. As
soluções que encontramos são apresentadas nessa obra. Um apêndice apresenta indicações
bibliográficas para os principais referenciais normativos desses instrumentos
no Brasil.
O título é uma homenagem ao Compendium of neuropsychological
tests de Spreen e Strauss, o qual nos ajudou a montar essa bateria, bem como
a toda uma geração de neuropsicologia brasileiros que começaram do nada.
Alguns dos testes discutidos são o teste de nove pinos,
teste de fluência verbal, teste dos cinco pontos de fluência de desenhos, teste
de aprendizagem auditivo-verbal de Rey, figura complexa de Rey, teste de
alcance de dígitos, teste de cubos de Corsi, teste de Stroop Victoria, teste
das trilas. Além disso serão discutidos dois testes comercialmente disponíveis,
o Teste dos Cinco Dígitos e o teste d2.
Além dos testes, nós discutimos alguns aspectos
relacionados ao seu uso na prática clínica. Escrevemos capítulos sobre a
neuropsicometria e sobre a confecção do relatório neuropsicológico. Além disso, eu escrevi dois capítulos que me deram muita
alegria. O primeiro deles é sobre a “ilusão dos números”, ou seja, sobre os
percalços que o neuropsicólogo enfrenta na aplicação e interpretação dos
testes. Argumento que o diagnóstico neuropsicológico tem um caráter
qualitativo, de natureza categorial, que não se deixa apreender apenas pelos
escores nos testes. Os testes são uma tentativa honesta dos neuropsicólogos de
aumentar a validade e fidedignidade das suas medidas. Mas o diagnóstico depende
fundamentalmente de um processo interpretativo, baseado em amplos conhecimentos
de correlação anátomo-clinica, modelos cognitivos dos processos mentais, desenvolvimento
humano, psicopatologia e epidemiologia clinica dos transtornos neurológicos e psiquiátrico.
No segundo capítulo que escrevi, procuro delinear as cem
máximas da anamnese neuropsicológica, destilando meus mais de quarenta anos de
experiência na área. O pessoal fala em medicina que 99% do diagnóstico é feito
pela anamnese. Não sei se isso é verdade. Pode ser 99,7% ou 95%. Ninguém mediu
ao certo. Mas a anamnese é importante. É pela anamnese que são levantadas as
hipóteses localizatórias, cognitivas e psicopatológicas que serão testadas
pelas tarefas neuropsicológicas. Teste quer dizer justamente teste de hipótese.
O diagnóstico neuropsicológico não se reduz a um procedimento mecânico de
aplicação de testes e conferência de escores em referenciais normativos.
Diagnosticar significa testar hipóteses diagnósticos. Os testes são apenas um
instrumento para isso. Um meio importante, mas não uma finalidade.
Estamos todos entusiasmados com o futuro lançamento do livro
e com o belíssimo trabalho feito pela editora Hogrefe. Tenho certeza de que
vocês vão gostar muito desse livro. Não perdem por esperar.
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