Wednesday, September 13, 2017

COMPÊNDIO DE TESTES NEUROPSICOLÓGICOS: ATENÇÃO, FUNÇÕES EXECUTIVAS E MEMÓRIA

O Compêndio de Testes Neuropsicológicos (Hogrefe, 2017)  já está disponível.


O livro foi inspirado no "Compendium of neuropsychological tests" de Esther Strauss e Ottfried Spreen, um classicão da avaliação neuropsicológica.

A idéia é apresentar alguns dos principais testes neuropsicológicos usados no Brasil e que são de domínio público em um formato "do it by yourself". A partir da leitura do livro a pessoa pode montar os seus estímulos e se divertir avaliando a cognição dos seus pacientes. Apenas um dos testes discutidos não é de domínio público.

O público-alvo não é composto exclusivamente por psicólogos, mas sim por profissionais da saúde e de educação que trabalham com neuropsicologia de forma interdisciplinar .

Nós procuramos discutir todos os aspectos pertinentes ao uso dessas tarefas: desde os estímulos e instruções até a interpretação, passando pelas hipóteses testadas, fidedignidade, validade, correlação anátomo-clínica etc.

As tarefas apresentadas podem ser usadas para construir uma bateria versátil de avaliação neuropsicológica, a qual avalia funções executivas, memória de trabalho, memória de trabalho, destreza motora, habilidades visoespaciais, linguagem etc. Obviamente uma avaliação neuropsicológica não se resume aos testes discutidos. Mas as tarefas apresentadas podem adiantar um bocado de serviço. Os testes podem ser usados a partir dos seis anos até a idade mais provecta.



O referencial normativo para o uso dessas tarefas no Brasil está disperso por diversas publicações, as quais são protegidas por copyright. Não podemos então reproduzir tabelas com esses dados. Mas fizemos um esforço grande para listar as referências onde essas normas estão disponíveis. A maioria do material está disponível na internet, sendo de acesso livre.

O livro apresenta também diretrizes para a confecção do relatório neuropsicológico.

Acho que merecem destaque os dois capítulos iniciais. No primeiro, a Annelise Júlio e eu discutimos o enfoque neuropsicométrico e clinico desenvolvido no LND-UFMG nos últimos 20 anos. O point principal é que o diagnóstico neuropsicológico não se reduz à aplicação de testes. O diagnóstico é feito sempre pela clinica, pela anamnese. A história clinica serve para levantar as hipóteses a serem testadas pelos diversos testes. Os testes recebem esse nome porque testam hipótese quanto a construtos psicológicos, correlações anátomo-clinicos.

Quase todos os testes usados em neuropsicologia derivam de estudos experimentais da psicologia cognitiva e anátomo-clínicos da neurologia. Para saber usá-los é preciso conhecer as hipóteses cognitivas e de localização cerebral testadas. Isso é muito mais importante do que quaisquer normas. Até porque as normas disponíveis nunca são suficientes para atender às necessidade de todos clientes.

A consideração dos aspectos psicométricos e normativos é importante porque corresponde a uma tentativa honesta por parte do neuropsicólogo com o intuito de aumentar a fidedignidade e validade do diagnóstico. Só que o diagnóstico é clinico e se baseia, em última análise, na identificação dos processos psicológicos comprometidos e preservados de acordo com algum modelo de processamento de informação e/ou na localização lesional.

Escrever o segundo capítulo foi uma das coisas que mais prazer me causou na vida. No segundo capítulo eu retomei um trabalho que havia divulgado anteriormente no meu blog sobre os Dez Mandamentos da Neuropsicologia. Procurei sintetizar a minha filosofia clinica em 100 máximas do diagnóstico neuropsicológico. Foi muito divertido e pode ajudar muita gente, principalmente os iniciantes.

Pode parecer presunção da minha parte querer formular mandamentos ou máximas neuropsicológicas. Trata-se na verdade apenas da síntese de uma experiência profissional de quase 40 anos. A clinica é uma atividade fascinante por diversos motivos, inclusive por ser  uma ferramenta intelectual para desvendar a natureza humana.

Só que o conhecimento clinico é precário e qualitativo. As hipóteses clinicas dificilmente se prestam a testes formais como em um experimento. Mas, ao mesmo tempo, é vantajoso servir-se da lógica do teste de hipóteses na clinica.  Aliado à psicometria, o teste de hipóteses contribui para aumentar a fidedignidade e validade dos diagnósticos, indo além da "receita de bolo".

Clínica não é apenas ciência; tem um toque artístico, consistindo da aliança entre engenho e arte da qual falou Camões. Nas máximas eu procuro sintetizar o aspecto artístico do diagnóstico neuropsicológico, tal como eu consegui sintetizá-lo. Ou seja, subjetivo e prejudicado pelos meus viéses e deficiências. Sua utilidade será julgada pelos leitores.

Gostaria de agradecer a todos os colaboradores que permitiram a confecção desse livro, em especial à Annelise Júlio e à Cristiana Negrão da Hogrefe pelo trabalho incansável na edicão. É o resultado de um trabalho colaborativo de mais de vinte anos para o qual concorreu a dedicação e habilidade de inúmeras pessoas.

A nota de chiqueza é o prefácio escrito pelo meu grande amigo, correligionário ideológico, ex-aluno e colaborador valioso Guilherme Wood, professor na Universidade de Graz, Áustria.

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