Saturday, March 03, 2018

O QUE ACONTECE COM AS CRIANÇAS COM DISLEXIA AO CHEGAREM À IDADE ADULTA?

Um estudo interessante publicado por Smart e cols. (2017) procura responder a essa questão. O estudo foi conduzido na Austrália e acompanhou um grupo de mais 1800 crianças dos 7 a 8 até os 23 a 24 anos de idade. Inicialmente, as crianças foram divididas conforme não tivessem quaisquer problemas e conforme tivessem dislexia, problemas de comportamento ou ambos os problemas. Os resultados confirmaram que as crianças com algum tipo de problema largaram a escola mais cedo e apresentaram menor probabilidade de se graduar no ensino secundario, médio ou superior. Houve um efeito sinérgico entre dislexia e problemas de comportamento. O risco foi maior para crianças com ambos tipos de problemas. Para dar alguns exemplos, 54% das crianças com ambos os tipos de problemas não concluiram o ensino secundário e apenas 37% obtiveram uma qualificação profissional em nível secundário (comparativamente a 61%-76% nos outros grupos). A chance de não obter uma qualificação profissional é quatro vezes maior no grupo com ambos tipos de problemas comparativamente ao grupo sem problemas. Apenas 26% das crianças com ambos tipos de problemas obtiveram uma graduação universitária, comparativamente a 38% - 56% nos outros grupos. A chance é duas vezes maior para as crianças com algum tipo de problemam não se graduarem na universidade comparativamente àquelas que não têm problemas. A mensagem é clara: Tanto a dislexia como os problemas de comportamento constituem fatores de risco para o desenvolvimento do indivíduo. E existe um efeito de dose, uma vez que a comorbidade é mais prejudicial. 


Mas os resultados verdadeiramente interessantes apareceram na análise dos efeitos ocupacionais. As dificuldades de aprendizagem e de comportamento aumentaram o risco de empregabilidade em posições menos qualificadas, com salário mais baixo. A chance é de até quatro vezes maior que as crianças com algum tipoo de problema tenham um status ocupacional mais baixo.  Mas não aumentaram o risco de desemprego. Os autores atribuem esse resultado às peculiaridades da Austrália, um país com baixa densidade populacional e com baixos níveis de desemprego há décadas. Quer dizer, lá na Austrália mesmo os jovens que tiveraram transtornos de aprendizagem ou de comportamento e que não fizeram uma forrmação profissional conseguem um emprego no início da idade adulta. Só que é um emprego menos qualificado, com salário mais baixo. 


Esses resultados colocam a pergunta: E o que acontece em épocas de crise econômica, quando o desemprego aumenta? Quem são os mais vulneráveis?


Referência


Smart D, Youssef GJ Sanson A, Prior M, Toumbourou JW, Olsson CA. Consequences of childhood reading difficulties and behaviour problems for educational achievement and employment in early adulthood. Br J Educ Psychol. 2017 Jun;87(2):288-308. doi: 10.1111/bjep.12150.

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