Thursday, May 31, 2018

DISSOCIAÇÃO EXPERIMENTAL ENTRE MULTIPLICAÇÃO E SUBTRAÇÃO

O modelo de código triplo presume que as operações comutativas (adição e subtração) são mais dependentes de códigos fonológicos, sendo implementadas por áreas corticais tradicionalmente asslociadas com o processamento lingüístico. Tais como as áreas perisilvianas do hemisfério esquerdo, principalmente áreas de Broca (BA 44/45), Wernicke (BA 22 posterior) e giro angular (BA39). 

A prática com as operações comutativas leva à memorização  das associaçòes problema-resposta sob a forma de fatos aritméticos representados através de um código verbal.

No caso das operações não-comutativas como a subtração há necessidade de determinar a numerosidade dos operandos antes de efetuar o cálculo. P. ex., importa saber que não é possível subtrair cinco de três. Assim sendo, os resultados das operações não-comutativas não podem ser armazenados de forma puramente fonológica como fatos aritméticos. Sempre que uma operação de subtração precisa ser realizada há necessidade de estimar as magnitudes dos operando, sendo para isso necessária a ativação geralmente bilateral das áreas do sulco intraparietal responsáveis pelo processamento de magnitude. 

Qualquer assunto em psicologia sempre é controverso. Mas é razoável afirmar que existem evidências convicentes apoiando essa hipótese de processamento dissociado entre multplicação (importância do código fonológico) e subtração (importância do processamento de magnitude) (vide revisão de Smedt, 2018). Mas, com exceção dos pacientes neuropsicológicos, a maioria das evidências disponíveis é d e natureza correlacional, advindo dos estudos de associação comportamental de variáveis (cuja maioria é transversal) e dos estudos de neuroimagem funcional. 

Assim sendo, são frágeis as evidência de que possa haver uma relação de causa-efeito entre o código fonológico e a multiplicação e o processamento da magnitude e a sutração. Kang e Lee (2002) conduziram um estudo experimental simples e brilhantes para desvendar essa questão. Um ovo de Colombo.

Eles se aproveitaram do dual task paradigm. O paradigma de dupla tarefa é amplamente utilizado em psicologia cognitiva. Esse paradigma foi explorado à exaustão por Alan Baddelley e seus alunos. As principais evidências para o modelo multiestoques da memória de trabalho foram obtidas através do dual task paradigm.

No dual task paradigm, a pessoa precisa executar duas tarefas simulataneamente. Trata-se de uma tarefa de atenção dividida. Se ocorre interferência e o desempenho em uma das tarefas piora, é possível inferir que as duas tarefas estão concorrendo por um pool comum e limitado de recursos de processamento controlado. Por outro lado, se não ocorre interferência isso significa que as duas tarefas não concorrem por recursos limitados e, provavelmente, são implementadas através de processamento automático e modular. 

O dual task paradigm é uma das coisas mais chiques da psicologia cognitiva. Constitui um modo elegante de obter evidências experimentais sólidas. Adicionalmente, é relativamente fácil de ser implementado e analisado. A análise requer basicamente a obtenção de um efeito de interação estatística, o qual pode ser facilmente observado através de ANOVA.

No estudo de Kang e Lee foram investigados 10 estudantes universitários durante a realização de operações de multiplicação ou subtração simultaneamente a tarefas de interferência.

As tarefas de interferência podiam ser fonológica ou visual. Na tarefa fonológica o participante precisava repetir uma pseudo palavra. Na tarefa visual, o participante era submetido a um teste de matching to sample com base na forma ou na posição espacial dos estímulos. 

Os resultados mostraram claramente que a tarefa fonológica interferiu com a multilicação mas não com a subtração (Figura 1). Por outro lado, a tarefa visual interferiu com a subtração mas não com a multiplicação.
Figura 1 - Em um paradigma de dupla tarefa empregado por Lee e Kang (2002), ocorre supressão da multiplicação mas não da sutração pela tarefa interferente fonológica. Por outro lado, ocorre supressão da subtração mas não da multiplicação pela tarefa interferente visual. 

No estudo de Lee e Kang (2002) foi observado de forma elegante e experimental que as recursos cognitivos necessários à multiplicação podem se dissociar dos recursos necessários à subtração. É possível inferir, portanto, que multiplicação e subtração são operações de cálculo provavelmente implementadas por sistemas neurocognitivos distintos.

Referências

De Smedt, B. (2018). Language and Arithmetic: The Potential Role of Phonological Processing. In A. Henick e W. Fias (eds.) Heterogeneity of Function in Numerical Cognition (pp. as51-74). San Diego: Academic.

Lee, K. M., e Kang, S. Y. (2002). Arithmetic operation and working memory: Differential suppression in dual tasks. Cognition, 83(3), B63-B68.



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